Ana Demoliner
Garimpar um imóvel comercial na área central de Caxias, até pouco tempo, não era tarefa tranquila. Até mesmo "filas de espera" não eram raras para a ocupação de pontos nobres. Com a desaceleração econômica instalada na cidade, o cenário mudou: praticamente todos os quarteirões da cidade contam agora com uma (ou mais!) sala vazia. Em imobiliárias voltadas a esse segmento, o número de pontos comerciais vagos cresceu pelo menos 10% no último ano.
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A retração financeira que ocasionou o fechamento de muitas empresas não é o único motivo apontado para essa oferta excessiva. Fernando Gonçalves dos Reis, presidente da Associação das Imobiliárias (Assimob), conta que muitos empreendimentos imobiliários foram lançados nos últimos meses, o que aumentou a disponibilidade.
- Até dois, três anos atrás, Caxias tinha uma escassez muito grande de salas comerciais. Nos últimos tempos, a situação mudou com a construção de novos empreendimentos. Atualmente, é comum algumas empresas mudarem para prédios novos, deixando então a sala antiga vaga, já que o valor não muda muito e eles ganham em infraestrutura - explica.
Reis acredita que, em média, há um aumento de 10% na disponibilidade de salas comerciais nas imobiliárias da cidade. O índice é confirmado na Grazziotin Negócios Imobiliários, focada no segmento e que conta atualmente com cerca de 500 imóveis vagos na modalidade corporativa. Segundo a sócia-proprietária Karla Grillo Grazziotin, o impacto maior da retração ocorreu em imóveis ligados ao segmento industrial, especialmente pavilhões e salas grandes. Já farmácias e lojas de material de construção seguiram com a ocupação em crescimento:
- Nesse ano já notamos uma procura maior por imóveis do que ocorria em 2015. Nossa expectativa é que essa busca crescente se concretize em negócios - projeta Karla.
O aumento da disponibilidade de salas gerou uma queda nos valores dos aluguéis. Segundo Reis, alguns proprietários optaram por não repassar a inflação no último ano ou até mesmo baixar o valor mensal para, assim, manter o contrato.
Essas negociações, porém, foram pontuais, analisa Ivonei Pioner, diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Muitos proprietários, relata, não cedem nenhum desconto:
- As negociações têm que acontecer, é preciso que todos entendam que o patamar mudou. O proprietário tem que pensar que quando pede R$ 10 mil por mês e ninguém aceita, é R$ 120 mil perdidos com o imóvel fechado em um ano. Já se ele aceitar fechar por R$ 8 mil, ele vai ganhar R$ 96 mil nesse período.
Comércio passa por descentralização
A demanda de imóveis em áreas centrais não baixou apenas motivada pelo cenário econômico. O comércio da cidade, avalia Ivonei Pioner, diretor da CDL, passa por uma mudança de comportamento, com cada vez mais gente apostando no chamado "comércio de bairro":
- A descentralização das lojas está bem maior. O comerciante vem percebendo que é uma estratégia útil, porque evita o deslocamento do cliente e os custos são menores - destaca.
Pioner lembra ainda que as salas vagas que se proliferam cada vez mais na área central e em centros comerciais estão desvalorizando muitos pontos:
- Shopping com muitos tapumes tem menos circulação, menos fluxo de pessoas. A rua é um shopping aberto, a logica é a mesma.