Há várias semanas o empresário Lori Luiz Furlan perdeu o sono. Ele administra a Serrana Sistema de Energia, que fornece produtos a vários órgãos do governo federal. Quase tudo o que foi entregue em 2015, com nota liquidada (quando houve repasse da mercadoria ), não foi pago. A dívida ultrapassa os R$ 300 mil e coloca em risco o funcionamento dessa empresa de pequeno porte de Caxias, que produz equipamentos para fornecimento, correção e geração de energia, como autotransformadores, estabilizadores e nobreaks.
- Tive de vender bens particulares para honrar com os compromissos e não seguir o exemplo do governo - revela.
Confira as últimas notícias do Pioneiro
Não há estatísticas de quantas empresas da Serra gaúcha estão sendo prejudicadas pelo não-pagamento da dívida pelo governo federal. Uma rápida pesquisa feita pela reportagem do Pioneiro indica mais de 10. O total da inadimplência supera os R$ 100 milhões.
O valor devido à Serra Sistema representa três meses de faturamento da empresa, que emprega 12 funcionários. Furlan trabalha com serviços para o governo há 10 anos. É a primeira vez que sente na pele o prejuízo. Ele conta que fornecer produtos para os governos (municipal, estadual e federal) não representa um processo fácil. Primeiro, é preciso estar com todos os impostos em dia - se estiver inadimplente com o governo, está descartada - e ter a garantia que o produto é o melhor na categoria. O próximo passo é ter toda a documentação exigida à disposição. E não é pouca coisa. Quando chega o empenho (ordem de compra), é hora de entregar a mercadoria (sem atrasos). A partir daí começa uma nova etapa do processo: receber o pagamento. Pela lei o acerto deve ser feito em até 30 dias.
Para ter uma ideia, a Serrana emitiu uma nota no valor de R$ 9.378 para o Centro Tecnológico da Marinha de São Paulo, no dia 30 de setembro de 2015. Ainda não recebeu o dinheiro. A cobrança é feita semanalmente. A resposta é sempre a mesma: "aguardando numerário".
- Isso é um golpe. É irresponsabilidade do governo dizer que incentiva o empreendedorismo e não pagar o que deve aos fornecedores - desabafa o administrador.
Lori tem razão. Após um ano em que a indústria caxiense fechou mais de 11 mil empregos - no total, são 14 mil vagas extintas -, as empresas estão fazendo malabarismos para não fechar as portas.
Com a maior produtora de ônibus da América Latina, a Marcopolo, a dívida do governo federal chega, atualmente, a R$ 80 milhões. Já foi bem maior. No segundo semestre de 2015 ultrapassou os R$ 250 milhões, mas parte foi paga. O valor corresponde à entrega de ônibus escolares feita em novembro de 2014.
O vice-presidente de Relações Institucionais da Marcopolo, José Antônio Fernandes Martins, define como irresponsável a atitude do governo numa época em que as empresas enfrentam uma das piores recessões do país.
- E o pior. O governo sequer cogita a possibilidade de pagar o valor devido com juros - critica Martins.
A assessoria de comunicação do Ministério do Planejamento informa que não tem como se manifestar sobre o assunto. Cada empresa precisa cobrar diretamente de cada órgão que forneceu seus produtos.
Calote federal
Governo deve mais de R$ 100 milhões a empresas de Caxias
Empresários que fornecem produtos à União denunciam dívidas que colocam em risco empreendimentos
Ivanete Marzzaro
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project