Em momentos de retração como esse que o Brasil passa atualmente, o melhor a fazer é agir com cautela e ser conservador. Porém, é importante ficar atento ao "momento exato da virada", pois o empresário que perceber primeiro quando a economia está reagindo vai se sobressair no mercado.
O conselho é do economista Marcelo Portugal, que é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e consultor de empresa e organizações. Ele foi o palestrante desta segunda-feira da reunião-almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC). O encontro integrou a 10ª Semana do Comércio e Serviços.
- Temos que estar com o dedo no pulso do mercado para sentir a hora exata da virada, aquele momento certo de deixar a cautela de lado e voltar a arriscar - ensinou.
Esse "momento da virada", acredita o economista, não deve vir tão cedo. A inflação deve encerrar o ano próxima dos dois dígitos e a taxa de juros também continuará subindo. O PIB de 2015 será abaixo de zero e setembro e outubro devem ser os piores meses do ano.
- A boa notícia é que o governo se deu conta que estava no caminho errado e vem mudando as estratégias. A má notícia é que fazer bobagem tem custo e estamos pagando em termos de recessão, desemprego e inflação. Vamos pagar nesse ano e provavelmente no ano que vem também - avalia Portugal.
O caminho errado citado por Portugal é uma coleção de erros adotados na gestão econômica durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Conforme o economista, o principal equívoco do governo federal foi adotar o Estado como uma nova matriz econômica.
- Deu errado, claro, porque o trabalho é o indutor do crescimento, não o Estado. O governo aumentou os gastos públicos fazendo isso e veio o desajuste das contas - analisa.
Outro erro grave na visão de Portugal foram os incentivos para setores específicos. O objetivo do Estado, destaca, é gerar políticas horizontais gerais, sem escolher um "vencedor":
- A economia tem que ser vista como um todo, senão os beneficiados serão sempre os "amigos do rei".
Neste ano, porém, o governo melhorou a gestão econômica, acredita Portugal. Os ajustes necessários farão 2015 e 2016 serem anos retraídos, para depois o país voltar a crescer.
- A presidente passou por uma "renúncia branca" nesse segundo mandato, terceirizando a gestão econômica para o Joaquim Levy (ministro da Fazenda) e a gestão política para o Michel Temer (vice-presidente), o que foi positivo - avalia.
Para o economista, o Brasil passa agora por um momento de "sincronização do ciclo político com o econômico". Para isso, avalia Portugal, o governo teve que abrir mão de ideologismos e apostar no pragmatismo.
O que nos aguarda
"Temos que estar com o dedo no pulso da economia para sentir a hora da virada", diz economista em Caxias
Marcelo Portugal palestrou na reunião-almoço da CIC desta segunda-feira
Ana Demoliner
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