É no súper, na hora de ver a soma das compras, que a informação de que a inflação caxiense atingiu os dois dígitos faz mais sentido para o consumidor. No acumulado dos últimos 12 meses, o percentual chegou a 10,17%, aponta o Índice de Preços ao Consumidor de Caxias (IPC-Ipes). Nos alimentos, a alta é levemente maior e está em 10,69%. O resultado prático preocupa em época de desemprego e retração econômica.
O impacto no bolso, porém, pode ser bem maior que esse. A inflação oficial é calculada com média em uma série de itens e, dependendo dos hábitos de consumo de cada um, o reflexo da variação de preços é superior que o índice divulgado.
Em uma simulação do Pioneiro, abrangendo apenas produtos que aumentaram nos últimos 12 meses e que são essenciais na lista de compras da maioria dos clientes (leia-se carnes, verduras, frutas, café, sabão em pó, entre outros), o acréscimo saltou para 26,15%. Para pagar apenas os mesmos R$ 100 de 2014, portanto, o número de itens neste ano teria que encolher, o que comprova a perda do poder de compra dos caxienses. Do conjunto de 17 produtos, até sete deveriam ser cortados para não ultrapassar os R$ 100.
Uma das razões para a elevada dos preços, explica o gerente técnico e operacional da Ceasa/Serra, Antonio Garbin, é a alta da cebola e, especialmente, do tomate. Considerados carros-chefes da alimentação, os itens ficaram escassos em função das condições climáticas adversas no Sudeste e na Argentina, o que elevou os valores.
Outro fator importante para a alta é o custo de produção. Segundo Garbin, o reajuste dos combustíveis e da energia elétrica, usados no transporte e em equipamentos como câmaras frias, encareceu muito os preços.
- Percebemos que essas altas, juntamente com a crise geral, têm reduzido o consumo. A população tem comprado arroz, feijão, carne e deixado frutas e legumes e outros alimentos um pouco mais de lado. Em média, o movimento na Ceasa caiu 15% devido a essa perda no poder de compra - conta o gerente.
A Ceasa é abastecedora de restaurantes e mercados, dando uma mostra da redução do consumo na ponta. Controlar a inflação e assim garantir preços melhores para o bolso, destaca o professor Roberto Birch Gonçalves, diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes) da Universidade de Caxias do Sul (UCS), não é tarefa apenas do governo:
- Seja por má fé, seja por ignorância, alguns atacadistas e produtores geram uma inflação maior do que a existente. Nesses casos, temos que trocar de estabelecimento ou falar com o comerciante e assim não compactuar com o abuso. O combate à inflação não é guerra de um soldado só.
COMO DRIBLAR
Seu bolso
Lista de compras que saía por R$ 100 há um ano custa agora R$ 126 em Caxias
Simulação do Pioneiro abrange itens que são essenciais para a maioria dos consumidores
Ana Demoliner
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