O setor de veículos vai aumentar os patamares de produção e venda a partir do mês que vem. A projeção foi feita pelo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, em entrevista na Rádio Gaúcha.
No entanto, ele observou que ainda não será possível reverter, neste ano, a queda nas vendas verificada no ano passado. O presidente da Anfavea ressaltou que, entre junho e julho, as vendas do setor cresceram 17% e a produção de veículos, outros 17%.
Moan viu como positiva a nova medida do Banco Central anunciada pelo governo federal de repassar mais R$ 25 bilhões dos depósitos compulsórios dos bancos para o crédito. Confira a entrevista:
Rádio Gaúcha: Entre os fabricantes de veículos automotores, qual é o clima neste momento? Dias atrás o senhor era uma ilha de otimismo no meio de um mar de pessimismo em relação ao futuro do setor, diante desta queda na produção. Qual é o seu sentimento hoje?
Luiz Moan: Eu não me considero otimista, me considero bastante realista em função das análises que a nossa equipe técnica tem feito sobre o nosso desempenho. Em primeiro lugar eu quero ressaltar que o primeiro semestre do setor automotivo foi bastante difícil. Houve um efeito dominó de avaliações negativas desde o mês de julho do ano passado, com muitas manifestações e com uma expectativa mais negativa ainda quanto à realização da Copa aqui no Brasil. Mas eu diria que julho representou o nosso fundo do poço. E, a partir do mês de julho, nós já estamos assistindo a uma nova visão do setor automobilístico. Ainda não será possível nós revertemos a queda em relação ao ano passado, mas já neste segundo semestre, sem dúvidas, teremos um período muito melhor que o do primeiro semestre.
As medidas anunciadas pelo governo federal e pelo Banco Central são dois anúncios para a liberação de dinheiro no mercado para a oferta de crédito. É possível avaliar qual o vai ser o impacto para o setor automotivo nos financiamento?
Olha, em realidade, o primeiro anúncio onde se falava em um aumento de liquidez em torno de 45 bilhões, foi uma medida bastante dirigida para a economia como um todo. Evidentemente, o setor automotivo pode ser beneficiado por essas medidas, principalmente em função de uma alavancagem e uma melhoria na economia como um todo. Nessa segunda medida, nós já tivemos algumas definições específicas para o setor automotivo e nós esperamos que o mercado reagisse de maneira adequada às medidas.
Na sua avaliação hoje, qual é a preocupação maior? É com relação a essa redução nas vendas ou é com a inadimplência?
Eu respeito muito todo o sistema financeiro de toda a rede bancária, que elevou as suas regras de maior seletividade para a concessão de crédito em função do índice de inadimplentes, que no ano passado chegou a 7,5%. Hoje nós já estamos com um índice de inadimplência abaixo de 5%, isso para o mercado geral dos novos e usados. Se nós considerarmos somente os veículos novos, o índice de inadimplência está abaixo de 3%. Eu gostaria de ressaltar que na segunda quinzena do mês de julho, logo após o término da Copa do Mundo, nós já elevamos as nossas vendas em cerca de 19%. No mês de julho, em relação ao mês de junho, nossas vendas cresceram 11,8% e a nossa produção 17%. Então, são indicadores bastante positivos.
O senhor fala sobre a produção, sobre a retomada no segundo semestre. Qual seria o patamar ideal de produção anual de veículos no Brasil para atender a necessidade de aproveitamento de todo esse parque industrial e também o que a economia brasileira suportaria?
Eu posso afirmar com tranquilidade, na nossa visão de longo prazo, que a indústria automobilística aqui no Brasil em 2018 terá uma capacidade de produção quase 6 milhões de unidades. Pretendemos ter neste período uma exportação de 800 mil a 1 milhão de unidade, portanto para sustentar essas capacidades, pensamos em um mercado interno em torno de 4,3 a 4,5 milhões de veículos anuais.
Retomando este investimento que o senhor falou agora pouco, que foi anunciado pela direção global da GM após uma reunião no Palácio do Planalto, investimento de R$ 6,5 bilhões nos próximos cinco anos no Brasil. A ampliação da GM aqui no Rio Grande do Sul fez parte de um pacote anterior de investimentos aqui no país. Esses R$ 6,5 bi, o que a gente pode esperar que venha aqui para o Rio Grande do Sul, para a unidade de Gravataí?
Posso dizer, com certeza, que nem sob tortura eu divulgo, porque vocês são muito ouvidos e aí a minha concorrência vai saber por antecipação coisas que nós não gostaríamos que elas soubessem.
O que os consumidores podem esperar de desconto, de bônus que as montadoras devem passar para as concessionárias para uma retomada de vendas? É possível esperar isso para os próximos meses?
Isso faz parte da política comercial de cada montadora, mas no geral nós já estamos assistindo a um volume bastante grande de publicidade e propaganda e também de ofertas bastante vantajosas para o consumidor. Mas aí é uma política individual de cada montadora.
A propaganda, de fato, nos últimos dias se intensificou com vantagens. Uma oferece o IPVA pago, a outra oferece zerar o IPI para o consumidor. Enfim, a propaganda segue sendo a alma do negócio da indústria automotiva?
Não só na indústria automotiva, mas no mercado de consumo como um todo. E, temos que lembrar que o desenvolvimento e o crescimento da economia brasileira, pela sua condição geoeconômica, nós temos como ponto fundamental o crescimento do mercado interno, ou seja, o incentivo ao consumo.
A grande preocupação sempre quando a gente fala na queda das vendas é com relação aos empregos. Recentemente quando o governo renovou o incentivo para a indústria automotiva a preocupação era com os empregos. Qual é a perspectiva para os próximos seis meses, em matéria de emprego no setor?
Em primeiro lugar o que nós temos que entender é que eu tenho uma avaliação diferente quando se fala em incentivo para o setor automotivo, quando se trata de redução eventual ou pontual de tarifa líquida de IPI. Nós temos a maior carga tributária de veículos, os nossos veículos têm tributos que absolutamente reduzem o nosso mercado, então eu sempre digo que o nosso mercado, na verdade, ele é artificialmente baixo em função da alta queda tributária. Mas de qualquer forma, quando nós falamos em preço, nós temos um compromisso mantido e assinado em maio de 2012 de que o setor manteria um nível geral de emprego relativo àquele mês. Eu quero lembrar que em maio de 2012 nós tínhamos cerca de 147 mil postos de trabalho diretos e no último mês de julho fechamos acima de 150 mil postos. Nós temos a consciência clara de que os trabalhadores do setor automotivo é um trabalhador muito qualificado, portanto com altos investimentos em treinamento e a indústria tem feito de tudo para a manutenção destes postos de trabalho, seja com a concessão de férias coletivas e concessão de licenças remuneradas. As demissões que ocorreram foram frutos de programas de demissões voluntárias para funcionários aposentados ou em fase de pré aposentadoria. E, finalmente, o que eu queria dizer é que o lay off que várias empresas estão adotando, na verdade é um mecanismo de preservação dos empregos, porque a indústria acredita em uma recuperação em um prazo curto. O lay off tem um prazo máximo de concessão de cinco meses, portanto não faz sentido se em um cenário ali na frente não for positivo, não for de confiança a relação com o lay off.