Comprar a prazo é uma tentação para os consumidores nesta época do ano. O comércio oferece vendas com parcelamentos a longo prazo, com pagamentos para fevereiro ou março. No entanto, essa facilidade de compra pode levar o consumidor ao endividamento. As parcelas que geralmente cabem no bolso do cliente escondem os altos juros que ele pagará pelo produto. Vender a prazo é mais lucrativo para o comércio.
Os exemplos podem ser consultados nos panfletos dos estabelecimentos de Caxias do Sul. Em uma loja de eletrodomésticos, um fogão à vista custa R$ 1.399. Se o consumidor decidir parcelar em 24 vezes, desembolsará cotas de R$ 104,90. Aparentemente o valor é pequeno, mas no final, se ele contabilizar, terá pagado R$ 2.517,60, uma diferença de R$ 1.118 (mais do que piso salarial dos metalúrgicos, de R$ 950). Ou seja, poderia ter adquirido quase dois fogões.
Em Caxias do Sul, há 68.030 CPF's cadastrados no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Até 31 de novembro, existiam 214.719 ocorrências de inadimplência, o que representa uma média de três registros por CPF. Isso significa que, em média, cada devedor tem mais de uma conta em aberto.
Para a economista Maria Carolina Gullo, assessora de economia e estatística da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), a opção da venda a prazo, facilitada, passa a ser um produto das lojas. Algumas até atuam como se fosse um banco, com possibilidade de empréstimo de dinheiro.
- O problema é que o brasileiro ainda não está educado para lidar com tanta oferta de crédito acessível. A maioria das famílias não está preparada pra dizer não, para decidir não gastar e guardar o dinheiro para depois comprar à vista e pedir desconto. Como a gente tem uma classe média e uma média baixa que recém chegaram nessa condição, as pessoas têm muita necessidade de consumo porque não tinham geladeira, fogão, sofá, nem mesmo a casa própria, e estão adquirindo tudo isso. Estão no momento de consumo. Pode-se dizer que isso é um ciclo natural. Durante muito anos, o brasileiro foi reprimido economicamente porque o acesso às compras, principalmente de longo prazo, era só para os ricos - disse Carolina.
A tentativa de vender mercadorias a prazo é evidente quando o vendedor pergunta de imediato se a forma de pagamento será carnê ou cartão. Nas compras à vista, muitas vezes o comerciante não faz questão de oferecer descontos. Coordenadora da pós-graduação em Marketing Estratégico da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG), a professora Flávia Bernardi identifica outra motivação para essa tendência, sobretudo se o pagamento será por meio de carnê.
- Tem uma questão por trás que é a fidelização. Há o interesse para que as pessoas retornem naquele ambiente. Isso tudo vai gerando uma retenção de alguma forma do cliente. Porque se ele tem também uma boa equipe dentro da loja, consegue usar isso para vender mais - comenta Flávia.
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