Dois dos mais versáteis artistas caxienses, Giovana Mazzochi e Douglas Trancoso se tornam ainda mais ecléticos quando formam a dupla Gio e Doug. Nas palavras de Gio, um “polvo” capaz de atuar, ilustrar, escrever, brincar, modelar, reciclar e até ensinar a fazer tudo isso. E foi graças a esses vários braços que o casal, que desde 2009 se dedica exclusivamente à arte, tem conseguido segurar as pontas durante a pandemia.
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Quando as escolas pararam, em março, os autores de Voos da Alma (Elos do Conto, 2016) e Lova (Liddo Editora, 2016) perderam uma série de oficinas contratadas para trabalhar com os livros em sala de aula – o que seria o principal trabalho previsto para o ano, ou pelo menos o mais rentável. Outro projetos foram suspensos, como atividades artísticas e educativas desenvolvidas junto a internos da Fase (Fundação de Atendimento Socioeducativo), e outro junto a mulheres recicladoras, através do Museu dos Capuchinhos.
– Projetos que levam autores às escolas e às comunidades têm como fator principal a troca: a gente toca música, desenha, conta histórias, os alunos fazem muitas perguntas. Sem poder realizar presencialmente, perderia o sentido. Até pelo fato de trabalharmos muito com escolas públicas, onde nem todos os alunos podem fazer online. Seria injusto querer continuar – explica Gio, 37 anos.
Com “tempo de sobra e a cabeça a mil”, como resume Doug, 34, foi a vez de tirar do papel um antigo projeto, não realizado antes por falta de tempo, de estender a produção ao audiovisual, criando um canal no YouTube para postar clipes, leituras e oficinas.
– Era algo que a gente queria fazer há muito tempo, ter mais esse espaço para servir de meio de expressão. Já tínhamos algumas coisas encaminhadas. Gravamos as músicas que já tínhamos, fizemos os clipes e gravamos os nossos dois livros em áudio, que hoje estão disponíveis na íntegra. É voltado principalmente para os educadores, que durante a pandemia também estão sendo prejudicados e agora têm mais esse material didático digital. Também acaba sendo mais inclusivo, pois serve como audiobook (para cegos) – comenta Doug.
A calmaria, no entanto, não durou muito. Com o avançar do período de quarentena, o casal começou a receber diversas encomendas (uma delas o personagem meditativo da foto acima), parte delas de amigos e conhecidos que reconheceram a necessidade de se apoiar mutuamente e entenderam que era uma boa hora para ter uma obra de Gio e Doug em casa.
– A cidade toda ganha quando o dinheiro circula por aqui. A gente viu nesse período muitos amigos que largaram seus empregos convencionais para viver de música, por exemplo, agora dando um tempo na música e vivendo da culinária, vendendo sua comida, seus doces. A gente fica de olho para divulgar e para comprar deles, porque assim todo mundo se ajuda. Quanto mais a gente divide, mais a gente soma _ diz Doug.
Paralelo às encomendas, começaram a surgir novos trabalhos, como lives para o Atelier Virtual, Sesc-RS e para a UCS. Uma nova e desafiadora forma de chegar até o público:
– Estamos acostumados com o olho no olho, o contato próximo, e a live não oferece essa troca tão rica, de sentir as reações e de conduzir a fala conforme o interesse de quem está participando. É quase um monólogo. Dias antes já dá um nervoso, tu já imaginas a internet falhando (risos). Mas é enriquecedor, porque também é um aprendizado – avalia Gio.
Mais recentemente, ambos tiveram projetos aprovados no edital de fomento à cultura FAC Digital, do governo do Estado. Gio irá desenvolver um trabalho de ilustrações e poesias de valorização ao feminino, enquanto Doug fará uma versão em quadrinhos do livro Lova. Tudo pela internet. Para acompanhar o casal nos ambientes virtuais, os principais canais são o YouTube (canal Gio e Doug Artes), o Instagram (@gioedoug), além do blog www.gioedoug.blogspot.com.