Suzana Webber Alves sempre enxergou além dos muros da cidade. Nasceu em Caxias, mas correu o mundo. Pisou em terras israelenses, viveu no meio do conflito entre árabes e judeus. Depois, atravessou fronteiras e morou na Inglaterra, onde conviveu com protestantes.
De volta à Caxias, encarou seus dias à ensinar crianças a ler e a escrever, e os adolescentes a lidar com sonhos e frustrações, sempre tendo como pano de fundo, a língua portuguesa. Depois dos 40, a vida de Suzana nunca mais foi a mesma. Suzana perdeu parcialmente a visão, mas ampliou a forma com que enxerga o mundo.
— Eu comecei a escrever o Skroktifuf depois de perder a visão, tive de aprender a escrever com um programa de computador para cegos que lê as letras enquanto escrevemos. Minha visão é lateral apenas, e não dá dimensão de cor nem detalhes — revela Suzana, 58 anos, esposa de Altair e mãe de Laura.
Suzana criou um reino para sublimar a incapacidade de ver. Um reino com cheiros e cores, uma fábula com borboletas que encenam no mesmo nível dos humanos, e que possui até uma árvore bailarina.
— Neste reino, a futura rainha nasce com uma amora na planta do pé esquerdo e, o futuro rei, nasce com um mirtilo na planta do pé direito. E a partir dessas convenções, começam haver as quebras de convenções, porque foi descoberta uma maçã atrás da porta — explica.
Na vida, nem sempre temos a explicação para dilemas existenciais, tampouco, para o desgaste acelerado da parte central do olho, com que Suzana tem sofrido. Agarrar-se à criação literária e debruçar-se à dar vazão ao cotidiano desse reino fantástico tem contribuído para ela encarar os dias com mais ternura e otimismo. Skroktifuf, reconhece Suzana, é um livro para o público infanto-juvenil, mas a autora entende que os adultos também vão se encantar com a história.
— Vou tratar de temas como a sexualidade com muita ternura, dizendo o que os personagens sentem, mas com poesia. Na cena do primeiro beijo, escrevo que a personagem sentiu "libélulas dançando tango no estômago".
O reino de Skroktifuf é perdido no tempo e no espaço.
— Não sei em que ano se passa, não tem rádio, nem televisão, nem internet. Vivem da agricultura e andam a cavalo. É um tipo de reino em que as folhas da árvore bailarina são usadas para fazer uma farinha, que misturada ao pó de asas de libélulas, é usada para fazer os pães da realeza.
O nome do livro, que na verdade é uma trilogia, causa uma certa estranheza.
— Muitos "brigaram" comigo por causa do nome. Diziam que é um nome difícil. Mas eu não posso mudar. Porque um pouco antes de eu ir para a minha segunda cirurgia do coração, eu estava conversando com a Laura, a minha filha (hoje com 19 anos e na época com 10). Aí, do nada, eu disse a ela: "o que está acontecendo agora em Skroktifuf?". Então, não posso tirar esse nome.
Para entender o significado será preciso ler toda a trilogia, porque a morfologia do nome está dividida entre as obras.
— O significado de "Skro" só será desvendado na segunda e terceira partes. Mas o "fuf" já aparece no livro um, que é o orvalho que as borboletinhas despejam no rosto das pessoas de manhã para acordá-las com bom humor e otimismo. E o "kti" é o nome de um escultor do reino, que esculpiu o pórtico.
Suzana, que diz crer nas energias metafísicas, diz que pretende lançar a segunda e terceira partes, também pela Liddo Editora, do jornalista e editor Dinarte Albuquerque Filho.
— Eu tenho de aproveitar esse momento, sabe, porque o portal está muito aberto. É muito lindo o que ainda está por vi — acredita Suzana.
Música com Coral do INAV
Durante o lançamento haverá show com o Coral Sossego na Pauta, do Instituto Nacional de Audiovisão (INAV). No repertório, Semeadura, de Vitor Ramil, Tocando em frente, de Almir Sater, Ainda bem, de Marisa Monte, Anna Júlia, da banda Los Hermanos, entre outras canções.
Programe-se
O quê: Lançamento do livro Skroktifuf - Uma maça atrás da porta (Liddo Editora - 2019), de Suzana Webber Alves
Quando: Sábado, dia 13, das 16h às 19h
Onde: Zarabatana Café (Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312)
Quanto: Entrada franca
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