Aruan é um menino de cabelo loiro bem fininho e macio. Aruan tem apenas um ano e nove meses, mas é figurinha fácil em eventos culturais. O guri não apenas corre e agita, mas é curioso e quer participar. Seu olhar é tão curioso que, por vezes, é como se ele entendesse os papos semióticos e as discussões sobre estética e linguagem artística. Aruan nasceu em um contexto de arte, porque seu pai, o Lucas Leite, é artista plástico e, sua mãe, a Júlia Pellizzari, é fotógrafa.
Mais uma vez, nesta semana, Aruan será visto em um evento cultural. Desta vez, para conferir a abertura da exposição CRUA e NUA, com fotos e vídeos, em uma instalação sensorial da mamãe Júlia, que abre nesta quinta-feira, às 19h, a mostra no Reffugio Art Café, na Casa Paralela, em Caxias do Sul.
— Antes do Aruan, eu ia registrando os caminhos que eu via pelo mundo, enquanto caminhava ou andava de bicicleta — explica Júlia Pellizzari, 28 anos.
Mas aí, veio o Aruan. E aquele tempo de observar o nada, de provocar a fruição do olhar ou de demorar-se na reflexão de um livro e de um filme, passou a ser pressionado pelo tempo da maternidade.
— Agora, fico muito em casa e, sempre que eu saio, tenho muitas coisas para levar: um bebê de 12 quilos, a mala do bebê de 12 quilos, comida e outras coisas mais. Então, a câmera se torna algo que fica complicado. Porque na maioria das vezes eu fotografo com câmera analógica. Às vezes, até levo a câmera, mas nem sobra tempo — revela Júlia, sem crise, divertindo-se com a cena.
O dilema da Júlia é o mesmo de tantas mamães que se vêem na berlinda entre a carreira e a maternidade. Felizmente, Júlia encontrou uma forma de driblar os obstáculos, dar atenção integral ao filho e tomar de volta as rédeas do fazer artístico. Em casa, encontrou o ambiente propício para fotografar, enquanto cuida do Aruan. E a temática mais familiar possível: o cultivo e uso de plantas medicinais, hábito que herdou em casa, dos seus pais.
— A questão das plantas faz parte da minha vida. Eu tenho esse envolvimento com o cultivo de plantas desde muito cedo. Aprendi com a minha mãe, desde o cultivo, a colheita da planta com o cuidado devido para que seja medicinal. Tenho cuidado também com o recipiente onde vou guardar, até etiquetar e guardar em local adequado. Em casa temos uma farmácia só de coisas naturais, desde óleos, plantas secas até as homeopatias — conta Júlia.
Essa preocupação da mamãe Júlia, tem um enfoque muito interessante e tem reverberado cada dia mais em pessoas que se preocupam com o que consomem.
— Penso muito em como a terra nos alimenta. Porque esses alimentos e plantas alimentam as mulheres mães, assim como as mães alimentam seus filhos. É como um fractal — observa Júlia.
Entre as plantas que fazem parte do espectro afetivo e curativo, as preferidas de Júlia são a lavanda, quebra pedra, mil-em-rama, guaco, maçanilha, alecrim e tansagem.
— A exposição tem um caráter sensorial. Exploro outros sentidos que não apenas o visual, com a possibilidade da pessoa interagir através do olfato e do tato com algumas plantas que estarão ali à mostra.
CRUA e NUA é uma instalação com fotografias e vídeos, mas também terá objetos da casa da Júlia, Lucas e Aruan, reforçando o tom intimista e familiar da mostra.
— Hoje em dia, percebo assim, as exposições são uma possibilidade de transportar o público para uma atmosfera. Então, mais do que uma parede, ou um espaço onde tu coloca coisas, é a noção de criar um ambiente. Especialmente nesse caso que tem a relação com a nossa casa — avalia.
A exposição é uma realização do Núcleo de Arte Unificada (NAU), com curadoria de Rafael Dambros e seguirá em cartaz no Reffugio Art Café até o dia 7 de agosto.
PROGRAME-SE
O quê: Abertura da exposição CRUA e NUA, da fotógrafa Júlia Pellizzari
Quando: quinta-feira, dia 27, a partir das 19h. A visitação segue até o dia 7 de agosto, de segunda a sábado, das 15h30min às 21h.
Onde: Reffugio Art Café (Casa Paralela)
Quanto: Entrada franca