O alemão Thomas (Tim Kalkhof) ocupa a maior parte de seu tempo manuseando delicadamente massas de tortas e biscoitos que enchem de sabor a vida de outras pessoas. O talento para a confeitaria, aliás, permite que o personagem conheça afetos que mudarão sua história para sempre. É assim, contrastando doçuras na boca e amargores no coração, que o diretor Ofir Raul Graizer conduz a história de O Confeiteiro, estreia da Sala de Cinema Ulysses Geremia, em Caxias do Sul, nesta semana. Representante de Israel no Oscar (apesar de não indicado), o drama entra em cartaz nesta quinta-feira e permanece até o dia 3 de fevereiro.
Os breves primeiros 15 minutos do longa são responsáveis por apresentar a relação entre o confeiteiro Thomas e Oren (Roy Miller), um israelense que vai a Berlim pelo menos uma vez por mês a trabalho. A narrativa não perde tempo aprofundando informações sobre como os dois se apaixonam, sabe-se somente que tudo começa com os deliciosos biscoitos de Thomas e termina com o sumiço inesperado de Oren. Logo, o alemão descobre que seu namorado israelense morreu (se a informação está no trailer, não é spoiler, certo?) e decide visitar a terra natal dele em busca de uma aproximação com sua história.
O silêncio e a sutileza dão tom ao personagem do confeiteiro, que percorre os passos do namorado em Israel, primeiramente guiado por um molho de chaves esquecido em Berlim. O contato começa de forma tímida, com Thomas encontrando um pedacinho de afeto (uma peça de roupa, no caso) que ficou abandonado no armário de um clube do qual Oren era sócio. O envolvimento começa a ficar mais sério a partir do momento em que o confeiteiro conhece a esposa e o filho do namorado morto. Os biscoitos entram em cena novamente e abrem espaço para que Thomas trabalhe no café administrado pela viúva de Oren, com quem ele acaba tendo uma aproximação mais intensa mesmo sem contar o que lhe moveu até Israel.
A introspecção do protagonista é compartilhada na telona e toca o espectador em vários momentos. A atuação do estreante em longas Tim Kalkhof impressiona pelo naturalismo. Aliás, prepare-se para assistir a uma das mais comoventes e reais cenas de choro dos últimos tempos no cinema, protagonizada por ele num dos momentos mais delicados da história.
Apesar de alguns deslizes estéticos — como um incômodo uso de fade em tela preta em alguns cortes —, O Confeiteiro ganha mais valor pela temática que apresenta. Há ali uma reunião de pessoas que tentam lidar, cada uma ao seu modo, com a perda. Usando o embate entre as culturas alemã e israelense como pano de fundo, o longa apresenta um olhar interessante sobre os limites na busca pelo que já não se tem, quando o luto pode nos colocar a lutar desesperados por qualquer resquício de uma já esquecida felicidade.
Programe-se
:: O quê: drama israelense O Confeiteiro, de Ofir Raul Graizer.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312)
:: Quando: estreia hoje e fica em cartaz até 3 de fevereiro, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes, idosos e servidores municipais)
:: Duração: 1h53min
:: Classificação indicativa: 14 anos