A consciência da finitude é o que aproxima os dois espetáculos que serão apresentados nesta sexta-feira dentro da programação do Festival Independente de Teatro (Feito), em Caxias. Embora com propostas bastante diferentes, Obscena Senhora e Contos do Avô Sol e da Avó Lua partem da premissa de que a morte é apenas o encerramento de um ciclo e que tudo é aprendizado.
Em cartaz às 20h no Ponto de Cultura Casa das Etnias, Obscena Senhora é o resultado do trabalho de conclusão da atriz e diretora Rafaela Giacomelli no curso Teatro: Licenciatura da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs). No monólogo baseado na obra A Obscena Senhora D, de Hilda Hilst (1930-2004), a caxiense leva ao palco a história de Hillé, que se recolhe em casa após a morte do marido, Ehud. Uma narrativa contundente sobre questões existenciais e a relação entre o divino e o humano, o sagrado e o profano.
— Poderia ficar 100 anos em silêncio que eu já teria sido completada pelo que ela expressa. O que me moveu a montar esse espetáculo, principalmente, foi o tema relacionado à morte. Sempre me questionei, desde criança, sobre morte, o fato de estar aqui, construir uma série de coisas e a morte vem. Ela é incerta e totalmente desconhecida. Quando penso em relação à morte, sinto com se eu conseguisse acessar mais puramente a vida. Como se todos os empecilhos caíssem por terra e eu conseguisse perceber o que importa realmente: minha precariedade e minha humanidade — reflete a artista.
Ao mesmo tempo em que se inspira no texto da poeta, cronista e dramaturga paulista, Obscena Senhora reflete ainda um pouco da batalha da própria Rafaela contra um momento psicológico bastante conturbado que viveu enquanto desenvolvia o TCC, no primeiro semestre deste ano.
— Vivia crises de ansiedade e de pânico e acho que isso foi o fio condutor para mim. Percebi que podia fazer algo com isso que estava sentindo — lembra.
A sessão em Caxias será a segunda vez que o espetáculo será mostrado ao público. A primeira foi em Montenegro, em 20 de junho.
— Me sinto feliz. Quatro anos e meio atrás eu saía de Caxias para fazer um curso e voltar a me apresentar na cidade é como se estivesse cumprindo um ciclo.
Atualmente, Rafaela integra o projeto Tempo de Impermanência: Teatro em Penitenciárias Femininas no Rio Grande do Sul. Uma vez por mês, às sextas-feiras, ela desenvolve oficinas de teatro com detentas do presídio feminino de Torres. A iniciativa é uma parceria entre a Uergs e a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).
Serviço
:: O quê: Obscena Senhora, de Rafaela Giacomelli.
:: Quando: sexta-feira (2), às 20h.
:: Onde: Ponto de Cultura Casa das Etnias (Av. Independência, 2542), em Caxias.
:: Quanto: R$ 15 por espetáculo. Venda antecipada no local ou na hora, pelo mesmo valor.
Leia também
Vozes, ritmos e consciência: Caxias do Sul recebe show do projeto "50 Tons de Pretas" neste sábado
"Nós, mulheres, já temos o poder. Precisamos ter o direito de exercitá-lo", afirma a jornalista Glória Maria
Criador do Natal Luz lança livro sobre os bastidores da criação do maior evento natalino do Brasil