Os homens que conviveram com a pensadora alemã Lou Andreas-Salomé – e que encantaram-se e influenciaram-se por ela – são infinitamente mais conhecidos do que ela mesma. Friedrich Nietzsche e Rainer Maria Rilke são dois dos nomes mais famosos com quem Lou se relacionou emocional e intelectualmente. O longa Lou, que estreia em Caxias nesta quinta (na Casa das Etnias), ganha pontos justamente por revisitar a trajetória dessa mulher inspiradora, seja para o século 19, seja para o 21.
Lou é o primeiro longa de ficção dirigido pela alemã Cordula Kablitz-Post, que conduz a história de forma concisa e direta. O roteiro parte do conhecido formato (para não dizer clichê) da protagonista que rememora sua história enquanto a narra para outra pessoa, nesse caso, um biógrafo. O filme mostra Lou em quatro fases diferentes: criança, adolescente, adulta e idosa (ela morreu em 1937, aos 75 anos). A fase adulta, no entanto, é a mais explorada, revelando a luta de Lou para investir na carreira de intelectual e manter-se solteira, quando toda sociedade cobrava dela exatamente o oposto.
Enquanto a personagem revira baús e caixas em busca de antigas histórias, surgem fotos que servem para as cenas de transição do longa. Trata-se de uma boa saída narrativa e estética, já que a reconstrução de uma Berlim de época seria mais complicada e cara. Desta forma, fotos e pinturas de paisagens de época ganham a tela enquanto Lou interage com elas. Na maior parte do tempo, porém, a história se desenvolve em cenários simples, dando a ênfase merecida aos personagens em cena e aos ricos diálogos. Entretanto, mesmo com a grandiosa personalidade da protagonista para explorar, por vezes o roteiro parece mais interessado em mostrar o que Lou despertou nos homens com quem conviveu, colocando o olhar da própria protagonista em segundo plano.
Uma perspectiva mais interessante do recorte feito pelo filme revela pontuais momentos de libertação vividos pela personagem, sendo o primeiro deles um rompimento com o pensamento cristão vigente na época – amparado na descoberta dos textos do racionalista Baruch de Espinoza – e o segundo relacionado com a sexualidade. Em ambos os casos, a personagem aparece caminhando satisfeita sob uma forte chuva, bonita figura de linguagem que sugere a postura desbravadora de Lou.
Chama atenção a falta de personagens femininas na história. Se Lou se tornou uma importante pensadora tendo sido influenciada por homens – pelo menos de acordo com o que o longa sugere – que esse filme sirva de embasamento para que a própria personagem mude o rumo dessa lógica, passando a incentivar gerações femininas ao protagonismo.
Programe-se
:: O quê: cinebiografia alemã Lou, de Cordula Kablitz-Post.
:: Onde: Casa das Etnias (Av. Independência, 2.542, atrás do Fórum).
:: Quando: estreia nesta quinta e fica e cartaz até 1º de abril, com sessões de quinta a domingo, às 19h30min.
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes, idosos e servidores municipais).
:: Classificação: 16 anos.
:: Duração: 112min.
Veja o trailer do filme