Desde a sua estreia na literatura, em 2002, com o volume de contos Ou Clavículas, Cristiano Baldi mostrou que sua escrita foge dos lugares-comuns – e do bom-mocismo. Quinze anos depois, o escritor, agora também professor de Escrita Criativa na PUCRS, volta às livrarias com o romance Correr com Rinocerontes (Não Editora, 288pág., R$ 39,90) – uma narrativa mais madura, mas que mantém de certa forma a verve do primeiro livro.
– Acho que de lá pra cá ficou algo do tom, algo da voz, uma certa violência juvenil da narração, além de uma obsessão em escarafunchar no caráter e nos propósitos dos mocinhos. Isso já era muito divertido de se fazer em 2002. Em 2017, levando em conta o que o mundo e a literatura se tornaram, escrever a respeito é a única forma honesta de viver – analisa Baldi, que autografa a nova obra neste sábado, em Caxias do Sul.
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Aos 40 anos, o autor caxiense conta que apesar de ter ficado anos sem escrever, por sobrar pouco tempo livre enquanto trabalhava como publicitário, a literatura nunca o largou:
– Ela sempre ficou no meu cangote. Eu tentei ignorar, até que não pude mais. Quando comecei a acordar às 4h30min da manhã para escrever ficou claro que eu precisava fazer uma escolha.
Essa escolha incluiu largar a publicidade e ingressar no mestrado em Escrita Criativa – o livro, aliás, é parte de sua dissertação de mestrado, defendida em 2015. Dedicar mais tempo à vocação literária permitiu manter uma rotina de escrita e concluir o projeto de Correr com Rinocerontes, iniciado ainda em 2007 como um conto longo. A narrativa foi crescendo, se transformando, até resultar no romance, publicado via Financiarte.
Na obra, narrada em primeira pessoa pelo protagonista, acompanhamos a história de um jovem que, após receber um telefonema, precisa deixar São Paulo e voltar com urgência à Porto Alegre natal. A viagem desencadeia memórias do passado, da infância e da adolescência do personagem – passando pelos avós intelectuais, o irmão com problemas mentais, o florescer da sexualidade e um terrível acidente cujas marcas ainda se fazem sentir. Tudo isso entremeado por observações muitas vezes sarcásticas do protagonista-narrador, que se autodefine como "uma plasta moral". Para Baldi, o personagem se equilibra entre o estoicismo e o cinismo:
– Ele é assustadoramente passivo, incapaz de qualquer ação mais enfática. Porém tem algumas visões bem interessantes, e algumas até defensáveis, a respeito das pessoas.
O autor brinca com essa característica:
– Às vezes imagino que foi ele quem escreveu o livro e não eu, e o vejo escrevendo algumas daquelas passagens mais violentas, mais sem-vergonha, mais belicosas, apenas para irritar um tipo especifico de leitor. É o tipo de coisa que ele faria.
O fato de se afastar do estereótipo de mocinho contribui, por outro lado, para a humanização do protagonista de Correr com Rinocerontes, uma vez que suas angústias e ambivalências se aproximam daquelas das pessoas "reais". Baldi afirma que isso não foi pensado para se aproximar do leitor, mas é fruto de uma certa ética de compreensão das motivações humanas:
– Qualquer escritor que tenha alguma pretensão de verdade e honestidade, ao menos dentro de nossa tradição literária, deveria se preocupar em investigar as ambivalências de caráter – diz.
Agende-se
O que: lançamento do livro Correr com Rinocerontes, de Cristiano Baldi
Quando: neste sábado, às 18h
Onde: Do Arco da Velha Livraria e Café (Rua Dr. Montaury, 1.570), em Caxias do Sul
O livro: Não Editora, 288págs., R$ 39,90
Literatura
Cristiano Baldi autografa romance "Correr com Rinocerontes", neste sábado, em Caxias do Sul
Narrativa deixa de lado os estereótipos e mostra a dualidade do protagonista
Maristela Scheuer Deves
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