
Para musicar um poema, atenta-se primeiro ao ritmo de cada verso. A partir das acentuações, o músico passa a tecer a melodia, com o maior respeito à prosódia, o que significa manter a sílaba tônica em seu lugar. Por último, costura-se a harmonia, sequência de acordes que serão o pano de fundo para o texto e que dará a atmosfera desejada. Como por exemplo as milongas, que para o violeiro Valdir Verona remetem à saudade de lugares que já existem apenas na memória. Não importa a quais ruínas o poeta Juarez Machado de Farias se referia em seu texto Tapera, para Verona a recordação das construções abandonadas de Vila Oliva, distrito de Caxias onde nasceu há 50 anos.
– A nostalgia é uma característica da milonga, que remete àquele lugar que você volta e não encontra mais nada além de paredes mortas, um lugar sem vida. Dele só restou tapera – exemplifica o violeiro, hoje morador de Ana Rech.
Ao longo de três décadas empunhando violões e principalmente violas de 10, nove ou oito cordas, Verona participou de incontáveis festivais de poesia. Num desses conheceu Juarez Machado de Farias, poeta e radialista de Piratini, Sul do Estado, com quem acaba de lançar O Violeiro e o Poeta. O disco celebra a parceria iniciada naquele dia que se passou em algum momento dos anos 90, pois o músico aponta que no álbum Tons da Terra, de 2000, eles já eram parceiros.
– Não sei dizer que ano era. Tenho alguns esquecimentos – admite Verona, que dedicou a essa facilidade em esquecer o tema instrumental Zamba Del Violero Olvidadizo.
Das 13 faixas que compõem O Violeiro e o Poeta, Verona destaca ter por cada uma delas um carinho especial. Aviso, carro-chefe da parceria com Juarez Farias, foi escolhida por Rolando Boldrin para ser apresentada na participação do caxiense mo programa Sr. Brasil, na TV Cultura, em 2013. Milonga pra Don Coletti homenageia um dos mais célebres luthiers de Caxias, que faleceu em 2011. Um Outro Natal remete aos ternos de reis que na infância Verona assistia com os pais em Gramado e Canela.
– Eu estava desligando o computador e dei aquela última olhada no Facebook, quando deparei com o texto do Juarez. Percebi que se encaixava com a métrica dos ternos de reis e em uma hora a música estava pronta. Enquanto algumas canções a gente trabalha ao longo de um ano inteiro e depois joga ideia fora, outras se resolvem em instantes – observa o violonista.
Lançado de forma independente, ainda não há shows de lançamento marcados para O Violeiro e o Poeta. Enquanto isso, o jeito de apreciar a intimista parceria é comprando o CD, que está à venda na Discoteka (Caxias Plaza Shopping), na livraria Do Arco da Velha e na loja de artigos gaúchos Galpão do Tio Ci. O preço médio é de R$ 20.