Erasmo Carlos bem que poderia viver das memórias do que produziu, já que tem nada menos que 28 discos lançados. Também poderia se manter em voga interpretando uma espécie de cosplay de si mesmo, já que a imagem de bad boy sempre foi tão poderosa quanto sua arte. Mas, depois de 55 anos de carreira, não é (somente) o passado que coloca o Tremendão no lugar que ele ocupa hoje, e sim sua capacidade de se regenerar frente ao desconhecido. A melhor resposta de um senhor de 75 anos para qualquer clichê que o tempo possa lhe impor é concedida em forma de novas composições, de andanças por outros palcos, de parcerias com antigos e recém conquistados amigos de fé.
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Uma síntese disso está no disco mais recente do Tremendão, Gigante Gentil (2014), que também batiza a turnê apresentada em Garibaldi nesta quinta-feira. Precedido pelos ousados Rock’n Roll (2010) e Sexo (2011), muitos acreditaram que o compositor completaria a tríade mais conhecida da música com um disco chamado Drogas, mas ele preferiu fugir do óbvio com um trabalho menos conceitual, porém tão honesto quanto os antecessores.
Se as viagens lisérgicas ficaram na fase psicodélica dos anos 1970, o Erasmo atual personifica a mistura que o próprio nome do disco define: carrega a imponência do roqueiro veterano (1m93cm de altura, cabelos e costeletas brancas e jaqueta de couro), dosada com a doçura de um apaixonado.
– O Gigante Gentil de hoje não é outro senão aquele mesmo, o da Fama-de-Mau, já imerso no espaço interestelar do autoconhecimento, anos-luz à frente do problema original – sentencia Lulu Santos, no material de divulgação do disco.
O álbum traz ainda as inquietações de um senhor às voltas com o amor em tempos de relações líquidas e com o ódio cada vez mais escancarado nas redes sociais. Na música de abertura, Erasmo responde ataques virtuais recebidos: “Mas quando dizem que o gigante é um morto-vivo/Perdido como um bicho sem carona no dilúvio/Me assusto com o olho podre que vê ele assim/Detonam o gigante e o estilhaço pega em mim”.
A sonoridade também aposta nesse híbrido do novo com o tradicional. Tem desde parceria com Marcelo Jeneci, até laços renovados com o guitar hero Luis Sérgio Carlini (ex-Tutti Frutti). Gigante Gentil tem ainda certo sabor clássico com roupagem nova para Além do Horizonte, uma das confirmadas no show em Garibaldi.
– Não posso deixar de mostrar músicas da Jovem Guarda e de outras fases da carreira. Terá um show especial com isso tudo só para Garibaldi – garantiu Erasmo em entrevista ao Pioneiro (leia a conversa completa na segunda-feira).
O Tremendão sabe que não há pecado nenhum em lembrar o que passou – e os fãs sempre esperam por isso – importante mesmo é não ficar sentado à beira do caminho.
PROGRAME-SE
:: O que: encerramento do Natal Borbulhante, com show de Erasmo Carlos
:: Quando: nesta quinta, às 21h
:: Onde: Praça Loureiro da Silva, em Garibaldi
:: Quanto: entrada franca