Uma família desconcertante recém chegada a uma cidade desértica da Austrália é o centro da trama de Terra Estranha, estreia desta semana na Sala de Cinema Ulysses Geremia. As primeiras tomadas do filme já intrigam o espectador ao mostrar uma criança caminhando sozinha na rua enquanto o dia amanhece. O menino em questão é o filho caçula do casal Catherine e Matt, ela uma dona de casa passiva e ele um farmacêutico ausente. Completando o quadro há a filha adolescente Lily, que desfila em trajes mínimos e coleciona romances lascivos na cidade. Até aí não seria nada demais, e a habilidade do roteiro está justamente em ir revelando as faces ocultas de cada personagem aos poucos, no ritmo característico dos thrillers psicológicos.
Os cenários do longa priorizam o clima agonizante da narrativa. Faz muito calor na cidade rodeada por um deserto intimador e onde jovens passam o tempo acumulando suor e poeira numa pista de skate. Esse é um dos espaços preferidos para as paqueras de Lily (Maddison Brown). Apesar das aventuras da garota, o resto da família está visivelmente incomodado com o novo lar e cada um lida com esse deslocamento de uma maneira diferente. Enquanto Matt (Joseph Fiennes) foca atenções no trabalho, Catherine (Nicole Kidman) passa os dias observando a vida dos filhos e cuidando da casa. E o pequeno Tom (Nicholas Hamilton) caminha solitário à noite. Depois que os irmãos somem sem deixar pistas (preste atenção nas cenas que envolvem a tempestade de poeira que marca o desaparecimento), a tensão revela obscuridades por trás do núcleo familiar. Logo, o espectador descobre que Lily não é tão alto-astral, que a a mãe tem muitos sentimentos reprimidos e que o pai precisa lidar com um misto de culpa e agressividade mais forte que ele.
Diretora estreante em ficção, Kim Farrant aposta de cara num suspense, gênero cheio de nuances e armadilhas fáceis (nas quais, felizmente, ela pouco cai). O longa coloca o espectador num lugar de incertezas, num típico nada é o que parece ser (ou será que é?). Tentando desvendar os fatos, até o delegado Rae (Hugo Weaving) acaba envolvido pelas facetas múltiplas dos personagens. Em certo momento, a trama – que por vezes lembra a da série hit Stranger Things, porém sem fofurices – também começa a flertar com o sobrenatural, atiçando ainda mais as expectativas do espectador. Além dos protagonistas, o deserto que envolve a cidade também parece guardar segredos.
Vencedora do Oscar por As Horas, em 2013, Nicole Kidman entrega bastante empenho aos tormentos da personagem, porém, o excesso de plásticas prejudica algumas das performances mais dramáticas. Às vezes, o botox grita na tela, mesmo sob a pele de uma mulher simples que usa pouca maquiagem. Outra questão que pode frustrar espectadores é a preferência do roteiro pela não resolução de alguns importantes mistérios, como se a constante poeira do ambiente também encobrisse as certezas.
Programe-se
:: O que: suspense australiano Terra Estranha, de Kim Farrant
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até o dia 13, com sessões às 19h30min (nas quintas e sextas) e 20h (nos sábados e domingos)
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Culura Ordovás (Luiz Antunes, 312)
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos)
:: Classificação: 14 anos
:: Duração: 112min
Veja o trailer
Cinema
Sala Ulysses Geremia estreia o australiano "Terra Estranha", nesta quinta
Suspense fica em cartaz até o dia 13 de novembro
Siliane Vieira
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