Nem só por cardápios variados e porções caprichadas são reconhecidos os restaurantes de Caxias: alguns proprietários renovam seus estabelecimentos com detalhes peculiares. E esses objetos acabam tornando-se quase tão interessantes e atraentes quanto a comida.
Leia as últimas notícias de Cultura e Tendências
Entre os estabelecimentos de vanguarda nesse quesito destaca-se a Pizzaria Giordani. Ela abriga interna e externamente elementos raros, dignos de museus. Marcos Giordani, que administra uma das unidades do negócio, situada no bairro Saint Étienne, dedica-se intensamente à decoração do restaurante com peças antigas e de todos os gêneros, da bomba de gasolina que ilustra a capa do caderno aos brinquedos antigos. Ele se revelou um expert garimpeiro na busca e pesquisa todos os tipos de peças antigas, desde que sejam incomuns.
- Há uma forte identificação com o estilo dos clientes e a magia do lugar - esclarece Marcos Giordani.
No bairro de Lourdes, o Café do Beto exibe um curioso acervo que preserva itens diversos. Na coleção de Alberto Ferla, 73 anos, há relíquias da própria família, todas em bom estado de conservação. Em Galópolis, o restaurante Casarão reflete o espírito da marca empresarial e também incorpora, há cinco anos, utensílios domésticos, livros, máquinas fotográficas, moedas e cédulas de dinheiro e imagens sacras no seu ambiente. Valdir Stragliotto, 52, e a mulher, Silvania Ghiotto Stragliotto, 42, fazem incursões em antiquários, sótãos de parentes e amigos, bem como não resistem à oportunidade de comprar uma peça rara e pagar um valor expressivo se comparado a um similar novo.
- Hoje se tem a consciência de que antigo pode ser valorizado numa ambientação e impedido de ser descartado no lixo - salienta Valdir.
O fascínio por este tipo de decoração mudou a mentalidade do casal Stragliotto. Um livro de 1929, que registrava os turnos de trabalho de operários, mas sem referência da empresa, virou motivo de especulações com inúmeras pessoas no sentido de descobrir a origem da empresa. Sem êxito, o documento permanece exposto num dos espaços.
- Mesmo sem identificação, não seria sensato destiná-lo à reciclagem de papel - raciocina Silvania.
O ânimo dos proprietários dos referidos estabelecimentos foge dos critérios rígidos da museologia, mas interage pelo sentimento estético e de valor aos objetos que um dia fizeram parte do cotidiano dos ancestrais. Esse comportamento preservacionista acabou agregando novos conceitos aos restaurantes. Os ambientes ganharam a atmosfera de museus e encantam permanentemente a admiração dos clientes.
- O interesse é tão forte que existe até proposta de compra de algumas peças - esclarece Alberto Ferla Junior, 36 anos, que atende no Café do Beto.
Há 15 anos, Giordani garimpa antiguidades
A pizzaria Giordani, então localizada na Avenida Júlio de Castilhos, no bairro Lourdes, começou receber atrativos de museu em 2001, segundo Marcos Giordani. As primeiras peças vieram do acervo da região colonial italiana. Graças ao elogio dos clientes, diz, a motivação fortaleceu-se e ele não parou mais.
Hoje, Marcos possui até uma retórica semelhante à uma autoridade em museologia. A casa, que se transferiu para a Avenida Abramo Randon, em setembro de 2006, foi concebida propositadamente para acolher uma disposição dos elementos com harmonia e organização. Cada objeto possui uma história, uma aventura, uma curiosa narrativa.
As bicicletas infantis, com estrutura metálica, que marcaram a década de 1950, foram localizadas numa fábrica extinta, em São Paulo. Na parte externa, duas bombas de gasolina, com logotipos da Esso e da Atlantic, foram adquiridas em Caxias do Sul. Marcos, inclusive, acompanhou a restauração e resgatou a originalidade minuciosamente. Colocadas defronte a pizzaria, as bombas fazem o deleite dos colecionadores de carros antigos.
Relação familiar instigou a conservação e a procura de objetos
A logotipia do restaurante Casarão homenageia a residência da família Stragliotto, uma casa em madeira envelhecida, típica dos primórdios da imigração italiana. Talvez essa relação familiar com o antigo tenha inspirado, de forma inconsciente, o descendente Valdir Stragliotto a começar montar seu acervo com rádios e televisões.
Depois de cinco anos de organização, os quatro ambientes e mais um corredor do restaurante estão todos tomados pelas antiguidades. Valdir não sabe precisar o total de peças, pois o objetivo não é estatístico, mas puramente sentimental. Latas de óleo vegetal para cozinha, com sua superfície enferrujada e marcas extintas do mercado intrigam as novas gerações. Ele também tem grande afeição por moedas, algumas obtidas da coleção do pai.
As máquinas fotográficas, destinadas para o amador, são referências de quem viveu na década de 1970 e 1980. Quem chega ao balcão para fazer o pedido, divaga no passado e recorda de suas férias na praia e muitos convívios familiares registrados pelas eficientes e extintas Kodaks. Silvania exibe uma álbum de figurinhas da Copa de 1970. O livro com a imagem de Pelé na capa foi adquirido por R$ 20, de Ludovino Echer. Na entrada do restaurante, percebe-se uma penteadeira. Valdir recolheu num depósito, fez o restauro e o formoso móvel se tornou utilitário ao ambiente.
Taxímetro é objeto mais raro do Bar do Beto
O deslumbre em manter um modesto, mas interessante museu no Bar do Beto é compartilhado pela família de Alberto Ferla que trabalha na casa. O filho Alberto Junior, 36 anos, participa zelosamente do espaço que virou atração na Rua Luiz Michielon. Um taxímetro, mais conhecido como capelinha, devido seu formato, é o objeto que desperta maior curiosidade. Alberto Junior o adquiriu em Nova Petrópolis, numa loja de antiguidades.
Na coleção de despertadores, três pertenceram à família. O pai Alberto mostra o cafeteira que recebeu de presente no seu casamento, em 1979. E foi neste ano que o bar lançou a primeira nota fiscal, documento exposto numa moldura. Uma luminária alemã, completamente desconhecida, requer auxílio de Alberto Junior, que possui satisfação em esclarecer as características técnicas.
Nostalgia
Restaurantes de Caxias guardam antiguidades e recriam ambientes
Pizzaria Giordani, Bar do Beto e Restaurante Casarão são alguns dos estabelecimentos
Roni Rigon
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: