Padre Alessandro Campos, que se apresenta neste domingo em Caxias (veja serviço abaixo), foi o cantor brasileiro que mais vendeu CDs no ano passado - 1 milhão de cópias do álbum O que eu sou sem Jesus. A façanha colocou-o na lista dos 50 artistas que mais venderam discos no mundo em 2014. Se não bastasse, a pré-venda do novo trabalho Quando Deus quer ninguém segura, lançado no final de setembro, já tem 700 mil cópias comercializadas.
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Na lista dos livros mais vendidos da Publishnews no país, Philia, do Padre Marcelo Rossi e Nada a Perder 3, do Bispo Edir Macedo, aparecem em terceiro e quarto lugares, com 388.025 livros e 316.465 livros, respectivamente - antes deles aparecem apenas dois livros para colorir.
Números como esse mostram que, por si só, o mercado da fé é superlativo. O professor de humanidades da ESPM Andrey Mendonça estima que negócios ligados à religião, somados à arrecadação das igrejas, movimentam R$ 50 bilhões por ano no país.
Autor do livro lançado em 2005 Igreja in Concert: padres cantores, mídia e marketing , o sociólogo André Ricardo de Souza apresenta uma ampla pesquisa sobre a reação católica à concorrência do mercado religioso. Fazem parte desse contexto a exacerbação do marketing religioso, a inserção na grande mídia e a centralização dos que ficaram nacionalmente conhecidos como "os padres cantores". Diz, ainda, que existe uma "confluência de interesses" nesse tipo de música. Por um lado, há o intuito de evangelização e fortalecimento da religião. Por outro, há o interesse econômico em torno desse sucesso musical.
Um exemplo disso é o interesse de grandes gravadoras seculares em abrir as portas para padres e cantores evangélicos, como é o caso da Som Livre, Sony Music e Universal Music. Essa última tem como aposta mais recente o Padre Marcos, mais conhecido como Padre Elvis, que lançou em setembro o álbum O Senhor é Rei _ Ao Vivo.
- Não existe concorrência nesse mercado, porque todos contribuem para a espiritualidade. A música e o livro são instrumentos para potencializar a mensagem de Deus - afirma Padre Elvis.
O precursor desse trabalho no Brasil foi Padre Zezinho, que tem 120 CDs gravados e prefere focar na mensagem em si à propaganda dela. No site oficial, escreveu sobre isso:
- Tenho dito aos meus alunos que o marketing moderno acentua o visual, o impactante e o superficial e esquece a substância. Seria como oferecer a laranja da qual se tirou o suco. Laranja se serve com suco. Música se serve com conteúdo bíblico-catequético e com doutrina.
Em Caxias
O educador social Rudimar Souza Camargo, 39 anos, o DJ Hood, está inserido no cenário do hip hop caxiense há 20 anos mas, desde 2004, passou a apostar no hip hop gospel. A transformação deu-se graças à conversão do músico, que também é pastor na Igreja Monte Sião.
- O mercado é bom, o povo é fiel e o público trabalha - afirma.
As apresentações que faz hoje concentram-se, especialmente, em eventos cristãos, como o 2º Encontro de Louvor de Caxias do Sul, que reuniu 15 artistas da cidade sobre o palco montado no Largo da Estação, no dia 4 de outubro. O mercado tornou-se tão interessante que Hood criou uma linha de bonés com a frase "Deus é Bom", que usa e comercializa nesses encontros.
Assim como ele, Dirceu Ferreira dos Santos, 30 anos, o Mano Natu, que se converteu há quatro anos, quer levar o próprio exemplo de vida por meio da música para mostrar que é possível uma recuperação.
- Vivi 12 anos no crime e nas drogas. O rap gospel é a maior ferramenta para atingir a juventude, porque rola uma identificação - diz.
Mano Natu relata que o segundo CD lançado por ele, Não Vou Desistir, é o mais vendido de rap em Caxias (entre cristãos e seculares), com 5 mil cópias comercializadas, e diz que tem como missão "salvar almas". Já abriu show de Edi Rock, dos Racionais MC's, entre outros, e planeja se mudar de Caxias para amplificar a pregação.
- Há um ano vivo disso, o sucesso é consequência, porque estou plantando bem - relata.
Sabe, no entanto, que o segmento escolhido dá conta de apenas uma parcela de fiéis e, por isso, vê com simpatia as demais vertentes da música gospel.
- Cada um tem um objetivo. Sei que meu rap não abrange a todos, mas tenho um público que se identifica - completa.
A missão evangelizadora pela música é compartilhada também por Suélen Borges, 22, que canta desde os cinco anos em casa e começou a fazer as primeiras apresentações na Igreja Assembleia de Deus - Ministério de Pelotas com 10 anos. Já gravou quatro CDs e um DVD ao vivo, compôs 50 músicas e tenta se estabelecer no mercado, que considera "bastante competitivo". Ela optou pelo segmento musical que mais faz sucesso no país, o sertanejo. O sonho de Suélen?
- Cantar nos Estados Unidos! - diz, sem pestanejar.
:: Padre Alessandro: show neste domingo, às 17h, em Caxias, no estacionamento do Shopping Iguatemi. A abertura fica por conta do padre Ezequiel Dal Pozzo. Os ingressos custam entre R$ 25 e R$ 150 e estão à venda na Livraria do Maneco (Marechal Floriano, 879), na loja Ferraro do Iguatemi e pelo site www.minhaentrada.com.br (há taxas).