Obras de arte vendidas a milhares de dólares, ou mesmo milhões, soam como algo muito distante do cotidiano para a maioria das pessoas, algo pitoresco que se escuta no noticiário e logo depois se esquece. Porém, mesmo que em menor proporção, Caxias do Sul começa a entrar no circuito do mercado de arte. Frequentemente são abertas exposições de artistas locais, e obras de nomes consagrados também são trazidas para serem mostradas ao público.
- Tenho uma cliente que tem uma coleção incrível de Vasco Prado - diz a proprietária da galeria Arte Quadros, Maria Inês Salvador, lembrando também o interesse mostrado pelos cursos de arte e pela Confraria da Arte conduzidos pela galeria.
Ela ressalta ainda que tem percebido um aumento no número de pessoas que visitam sua galeria, e que muitos se tornam compradores - alguns já tem mais conhecimento na área, outros ainda estão engatinhando, mas o interesse pela arte, garante, existe.
Entretanto para a artista plástica Valéria Rheis, uma das proprietárias da galeria Arthista Um, não se pode falar em mercado de arte na cidade:
- O que se tem são alguns colecionadores, não se pode sequer falar em investidores, como na Europa. E não é questão de dinheiro, mas de cultura - salienta, acrescentando que muitas vezes o público de exposições é composto por pessoas que vão prestigiar quem está expondo, sem que tenham interesse real em sua obra.
Apesar disso, identifica um pequeno grupo fixo que realmente prestigia exposições porque gosta da arte pela arte, mesmo que nem sempre tenha condições de comprar uma obra. Há 30 anos atuando na área artística, ela diz que o trabalho de artistas e galerias é de formiguinha, de apresentar boas obras ao público e ir formando-o e conquistando-o aos poucos.
Essa constatação casa com a avaliação do artista visual e curador independente André Venzon, que já foi diretor do Museu de Arte Contemporânea do RS (MACRS). Ele defende que entre a gestação da obra pelo artista e seu conhecimento (e reconhecimento) pelo público a arte/artista convive com um longo período de exibição, em que a etapa da comercialização perpassa agentes e lugares que se interrelacionam durante o processo de institucionalização da obra de arte.
- É necessário entender que essa etapa participa de um ciclo vital maior, de uma cadeia produtiva mais ampla, portanto não podemos pular etapas e "plantar" artistas em museus, galerias e feiras de arte. Caso isso ocorra, passa-se de um ciclo vital para um ciclo ficcional, que não respeita a própria história da arte em expansão. Jacques Villon, pintor e irmão do artista francês Marcel Duchamp, teria dito ao pai da arte conceitual que "os primeiros 50 anos são os mais difíceis para o artista" - cita.
No caso do mercado de arte caxiense, talvez ele ainda esteja no início do seu ciclo e tenha muito caminho pela frente. No entanto os primeiros passos, com certeza, já estão sendo dados.
Artes plásticas
Caxias do Sul começa a desenvolver mercado de arte
Embora ainda seja preciso ampliar público, cidade já tem quem invista no setor
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