Professora aposentada e escritora entusiasmada de olhos muito azuis e lábios sempre coloridos, Maria Helena Balen era fã de boleros, da canção New York, New York interpretada por Frank Sinatra, de Only You, cantada pelo The Platters, de biografias e de Clarice Lispector. Mas também gostava de coisas simplórias, como polenta, do cheiros dos campos de Vila Seca e se realizava sendo avó de José Victor, João Pedro, Maria Eduarda, Beatriz e Verônica.
Farroupilhense, veio para Caxias estudar aos 15 anos e não voltou mais. Em 2008, foi homenageada com o título de Cidadã Caxiense e afirmou que era um prêmio:
- Por ter escolhido a cidade que eu escolhi para viver, constituir família, para morrer.
Vivia no Centro há 50 anos e brincava:
- Só me mudo se for para morar no chafariz da praça.
Um dos trabalhos mais significativos realizado por ela foi desenvolvido na Penitenciária Industrial de Caxias do Sul, levando literatura aos apenados. Por mais de uma década, ela entrou semanalmente no presídio, sem escolta, para ler e escrever com os presos. Sempre que podia, declarava que tinha o gene da felicidade e, desta maneira, uma predisposição para ser feliz.
Quando tornou-se patrona da 25ª Feira do Livro em 2009, quatro meses depois de ter perdido o marido, Vasco Balen, com quem viveu por 48 anos, cantarolou Roberto Carlos na abertura: Sei tudo que o amor/É capaz de me dar/Eu sei já sofri/Mas não deixo de amar/Se chorei ou se sorri/O importante/É que emoções eu vivi...
Foi aplaudida. Chorou. E voltou a ser aplaudida. Sorriu, daquele jeito espontâneo que caracterizava a mãe de Jacqueline, José Francisco e Alexandre.
Autora de quatro livros - Vivendo simplesmente (2000), Os mandamentos do não e outras histórias (com outras cinco autoras), Divisor de águas (2005) e Vidas cruzadas (2009) - chegou a declarar que os textos davam a ela uma sensação de imortalidade.
- Por mais simples e despretensioso que seja, a gente tem a sensação de que existirá para sempre, desafiando a nossa própria morte e das futuras gerações. Ele será uma prova de que a gente existiu - disse, faceira, como no Carnaval passado, quando foi homenageada pela Ala Tirando de Letra do Bloco da Velha e desfilou com alegria.
Obituário
Maria Helena Balen, uma Cidadã Caxiense com orgulho
Nascida em Farroupilha, adotou Caxias para viver e morrer
Tríssia Ordovás Sartori
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