Ricky Martin veio ao Brasil esta semana para gravar o clipe da canção que venceu um projeto aberto a 29 países, em parceria com a Fifa, chamado SuperSong. Desde que a Sony Music o anunciou, em dezembro do ano passado, 1,6 mil aspirantes a músicos enviaram canções que tinham a Copa como tema. Depois de uma peneira com três fases, o próprio Ricky ajudou a escolher o norte-americano da Flórida Elijah King como vencedor com Vida.
O porto-riquenho recebeu a reportagem do jornal O Estado de São Paulo para uma conversa sem assuntos proibidos.
O que o faz, depois de 70 milhões de discos vendidos, estar em um projeto como esse andando pelo mundo com um artista desconhecido?
Ricky Martin: Quando você recebe uma ligação da Fifa, tem que dizer sim. Eles uniram forças com a Sony, algo bom tinha que sair.
O fato de você estar em um projeto sobre a Copa sem ser brasileiro em um país com tanta riqueza cultural trouxe um incômodo sobretudo em parte da classe musical. Muitos prefeririam um brasileiro neste posto.
Ricky: Não vou levar o nome do Brasil, mas o da música com o esporte. Só posso gradecer que o Brasil siga me abrindo as portas. Minha música foi influenciada por ritmos brasileiros e só estou aqui aprendendo. Conheço a riqueza cultural de vocês, conheço Carlinhos Brown.
O futebol é um ambiente intolerante com relação à sexualidade. Eles jamais assumem ser homossexuais sob pena de represálias de torcidas e demissões dos clubes. Acredita que poderia ser diferente?
Ricky: Não é algo cultural do Brasil. Não é algo de famílias latinas. Acontece na Alemanha, acontece no Canadá, onde existe muita homofobia. A religião não ajuda. ê triste, mas a religião me fez pensar que aquilo que eu sentia (por outros homens) era coisa do diabo. O problema não é do esporte, é da sociedade que vem martelando esse preconceito por séculos. Só posso dizer que minha vida é maravilhosa. (A assessora da gravadora interrompe, pedindo que o repórter faça outra pergunta). Não, deixe ele perguntar porque isso é muito importante.
O que você diria para esses jogadores que não assumem suas condições?
Ricky: Que a vida é maravilhosa quando você vive com transparência. Os medos só estão em nossas cabeças. A repressão nunca é justificada.
Mesmo que eles paguem o preço sendo demitidos dos clubes?
Ricky: Mas isso nunca aconteceu. Esse é o medo de que estou falando! Acham que vai acontecer e não fazem. Aconteceu comigo. Eu pensava que iria perder tudo, e não sabia o que ia ser da minha carreira se me assumisse. Depois que assumi foi melhor ainda.
Você cuida de crianças vítimas da escravidão sexual. Quantas crianças sua instituição já conseguiu tirar da situação de exploração sexual no mundo?
Ricky: Trabalhei em um orfanato com 167 meninas e agora estou abrindo um centro em Porto Rico, com mais 100 meninos e meninas que poderiam entrar no mundo da escravidão sexual.
Suas fase de Menudos parece ter sido um fardo pra você, com 12 anos de idade e todas aquelas pressões do show biz?
Ricky: Menudos foi um fenômeno. Começamos a turnê no Brasil, em Belém, para 90 mil pessoas, e terminamos em São Paulo para 100 mil. Aquilo marcou uma geração.
Mas aquele momento não traz a você as melhores lembranças, certo?
Ricky: Ninguém tem as melhores lembranças da juventude. Você não sabe quem é, suas mãos são grandes, as orelhas também, é uma loucura. Mas se tivesse que voltar, faria tudo igual. Aos 12 anos, dei a volta ao mundo. Com 15, estava no palco com Michael Jackson. Cantei com Luciano Pavarotti, Sting, Bono. Estou bem, não?
E quando essa vida fica ruim?
Ricky: Longe dos meus filhos.
Sem medo
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