Caco Ciocler estreou nas telonas numa época em que o cinema brasileiro ensaiava uma retomada. Tinha tanta vontade de viver esse universo do audiovisual que acabou topando todos os projetos que apareciam, inclusive alguns dos quais não guarda muito orgulho. Hoje, acumula quase 40 títulos no currículo.
— Lá por 2000, quando estava começando a esquentar, eu fui descoberto pelo cinema, então fiz muuuita coisa naquela época. Fiz muita coisa ruim, muita coisa boa, mas era quase um sonho fazer cinema. Acho uma linguagem muito específica e difícil, foi bom porque minha escola foram os filmes que eu fiz — contou ele, em conversa com a coluna durante a divulgação do filme Simonal, no qual interpreta um torturador.
O que te faz dizer sim a um projeto hoje?
Acho que não é um livro de receitas, cada projeto é um projeto. Hoje em dia, o teatro me satisfaz nos projetos pessoais. Penso se o personagem me desafia em algum lugar, se o tema me interessa, se vou aprender alguma coisa. Fiz um tempo atrás uma comédia com a Ingrid Guimarães, por exemplo, fiz porque tinha feito poucas comédias, queria experimentar esse lugar. Eu estou com 46 anos, quase 20 de carreira, hoje já posso me dar o luxo de dizer que me interessam projetos que me desafiem. A minha profissão tem muito disso, a gente é o próprio instrumento do nosso trabalho. Os personagens são oportunidades que a gente têm de trabalhar musculaturas emocionais que nem sempre a gente trabalha.
Como o filme Simonal se conecta com o cenário atual do Brasil?
Acho que em vários pontos, como no racismo velado que ainda sobrevive, nesse lugar de uma minoria, por exemplo, Pabllo Vittar, independente da qualidade musical, a defesa do Pabllo é assim: nunca teve um trans ocupando esse lugar, é importante que ocupe. Talvez o Simonal tenha sido um primeiro exemplo assim. Tem o ponto da delação, da fakenews, e da polarização, que hoje antes de a pessoa te conhecer quer saber se você vota no PT ou no PSDB. A gente tá vivendo um momento muito cruel, se você não for do meu time não vou querer nem conhecer você.
O Brasil tem vivido um momento bacana das cinebiografias, qual artista você ainda gostaria de ver como personagem na telona?
Da Rita Lee já foi feito? Acho que seria uma personagem muito legal, esse momento feminista que a gente está passando. Ela é uma mulher que esteve sempre a frente, muito livre. Agora, fazer cinebiografia de gente viva é muito complicado, vai ter do Erasmo agora e é louco porque "você conta a história até aonde?". Além da Rita, sou fã do Gil, do Caetano, a Tropicália também merecia boas cinebiografias de seus representantes.