Tenho uma amiga que queria estar em qualquer lugar do mundo, menos aqui. Para ela, é como se existisse um não pertencimento, como se a cidade não fosse suficiente ou capaz de abrigá-la. A sua maior vontade é cruzar o oceano e viver bem longe daqui, lá onde tudo é mais fácil e a vida é muito melhor, sabe? Pois é, eu discordo.
Não vou bancar o patriota e este texto é tudo menos um discurso de “valorize a sua terra natal e blá blá blá” (embora também valesse). O meu ponto mesmo é a expectativa depositada nessa história toda. Pior ainda: a espera de uma expectativa que sabe-se lá quando (ou se) será cumprida.
Quem sabe seja medo meu. Medo de amigo mesmo. Eu não quero imaginar como seria difícil para ela caso 1) ela não pudesse realizar o seu sonho de estar bem longe daqui; 2) ela realizasse esse sonho e, pasmem, descobrisse que o lugar é o que menos importa. O que importa é a gente mesmo.
Falo isso porque mágica só aconteceria mesmo se ela fosse pra Disney (o que não é o caso). De resto, a vida vai ser vida (e terá que ser vivida) em qualquer lugar do mundo. As contas virão, o trabalho será duro, e lá pelo final do mês nem sempre vai sobrar dinheiro. É certo que as paisagens serão outras (e talvez isso motive, o que será ótimo), mas qual é a bagagem que temos que levar dentro da gente quando decidimos fazer uma mudança radical? Neste caso, o deslocamento não é só físico. O que muda e o que permanece quando a gente decide partir?
Tenho amigos do outro lado do mundo que estão vivendo a maior e melhor experiência de suas vidas, e quero muito um dia alcançar o mesmo grau de coragem. Torço por esta minha amiga, assim como espero que ela possa entender que comprar a passagem é só a primeira etapa. E que qualquer lugar do mundo pode ser o cenário perfeito para as nossas conquistas, desde que desejemos conquistar. O agora (que também pode ser chamado de “tudo aquilo que temos”) é exatamente onde estamos.