O título deste texto poderia muito bem servir para um filme de ação protagonizado pelo Bruce Willis ou pelo Denzel Washington, daqueles que a gente já assistiu uns 50 iguais mas que continuam produzindo. Na verdade, a minha intenção inicial era utilizá-lo para batizar o vírus que vem criando pânico ao redor do mundo nos últimos meses, mas nem sei se ele chega a ser o pior dos nossos inimigos agora, até porque, temos outros vários.
Era uma vez os primeiros dias de quarentena no Brasil. Tão cedo, o coronavírus já estava desnudando alguns comportamentos de uma parte da população (vimos algo parecido nas eleições passadas): os carrinhos de supermercado nunca estiveram tão cheios. O álcool gel e as máscaras descartáveis desapareceram das prateleiras em questão de horas, assim como os rolos de papel higiênico (alguém me explica?!), o arroz, o feijão, e por aí vai... O senso de coletivo não existiu, e eis aqui uma das primeiras razões para acreditarmos que um dos inimigos invisíveis neste momento sejamos nós mesmos - junto da nossa falta de empatia e solidariedade. Afinal, quem varreu as prateleiras do mercado chegou a pensar nas crianças mais carentes que tiveram aulas suspensas e, consequentemente, perderam a única refeição que têm durante o dia?
Antes que me acusem de demagogia, prefiro suavizar qualquer acusação e me focar em outro invisível insuportável: a saudade. Faz pouco mais de uma semana que não vejo a minha família e amigos, e nem mesmo as redes sociais são o suficiente para preencher qualquer lacuna provocada pela falta do abraço, do olhar, do toque. Não quero acreditar que isso seja um tipo de karma que estejamos vivendo, mas gosto sim de pensar que tudo isso também acontece para provocar reflexão. Eu mesmo já reparei que não abraço os meus pais o suficiente, que tenho os amigos mais incríveis do mundo, e que a gente tem que dar valor ao agora - é a única coisa que a gente tem.
Percebe como o invisível é aquilo que mais mexe com a gente? Invisível é a saudade, é a falta de companhia, é o egoísmo, é a empatia que não está tão presente quanto deveria, é a água que nos salva mais uma vez para combater um vírus que também é invisível, mas que mesmo assim foi capaz de mobilizar o mundo inteiro - para o bem e para o mal, como de costume. Houveram preços abusivos em itens básicos de prevenção, falta de bom senso nas ordens de resguardo, mas também houveram vizinhos ajudando uns aos outros, redução na poluição a nível mundial, e uma corrente de boas ações online (torçamos para que elas perdurem mesmo após a pandemia).
E como para tudo, procuramos alguns culpados. Teve quem culpou a China por ter tido o paciente zero, teve quem culpou o presidente do Brasil por falta de maturidade e bom senso para liderar um país em crise, teve quem culpou a política em si (os ex e os futuros affairs), teve quem culpou o SUS (o qual deveria ser um dos principais orgulhos do povo brasileiro), teve quem culpou os manifestantes nas ruas em plena pandemia e teve quem culpou os que só ficaram em casa armados com panelas.
Mas teve quem acreditou: vai passar. Não só o vírus, mas todos os inimigos invisíveis que temos que lidar em um país (mundo?) dividido pela incansável vontade de acreditar que só há o certo e só há o errado, que é sempre necessário ser A ou B - do futebol à, principalmente, a política -, sem lembrar que, se estivéssemos todos juntos atrás do mesmo ideal (no momento, ser livre o suficiente para transitar na rua de casa), já seria o suficiente para não termos que nos isolar para enfim entender diversas coisas.
Fim.
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