Já faz alguns dias que eu assisti a um vídeo da jornalista Mariana Ferrão onde ela contava os motivos que a fizeram abandonar a televisão. Basicamente, ela deixou de acreditar naquilo que estava fazendo e os seus últimos dias só foram esticados por conta do medo de chegar e pedir a demissão de uma vez. Um tempo depois, sentada em seu quintal, ela avistou uma dupla de corvos no telhado da sua casa e eles estavam dançando. Para a Mariana, não foi difícil compreender o significado daquela cena: os corvos simbolizam a putrefação, e eles estavam ali para alertar que não adiantava seguir em frente com algo que já tinha perdido a validade.
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Achei o vídeo muito interessante, mas sabe como é... Qualquer coisa que acontece na nossa vida, sempre tendemos a negativar ou enxergar superficialmente. Isso aconteceu até o início dessa semana, quando entrei no meu quarto e avistei um pombo em cima da minha cama.
Sim, um pombo.
E ele era gigante.
Em um primeiro momento ele se assustou, é claro. Já eu, mais ainda. Saí correndo e gritando, fechei a porta na tentativa de trancá-lo ali e sentei para me acalmar. Na cabeça, um só pensamento: o que mais falta acontecer comigo? É claro, a gente adora se vitimizar. Culpado fui eu que deixei a janela escancarada e o pombo, coitadinho, nem sabia direito onde estava.
Nos minutos seguintes eu elaborei estratégias diversas sobre como expulsá-lo do meu quarto, mas acontece que eu nunca tive que lidar com um pombo em cima da minha cama. O Google foi direto e claro quando pesquisei sobre os modos de capturar um pombo: passo 1 – compre uma armadilha. É sério?! Quis quebrar o computador, é óbvio. Você sabe... Semana difícil.
O resultado da história toda foi que, depois de um e-mail para a minha mãe (eu estava sem bateria no celular e o carregador... Bem, adivinhem onde estava), pedindo para que ela ligasse para o meu pai vir lidar com o pombo invasor, conseguimos espantá-lo janela afora – na verdade o mérito foi todo do meu pai.
De janelas fechadas pelo restante do dia, foi hora de refletir. Antes de tudo, pesquisei sobre a simbologia dos pombos e descobri que, além da tradicional ideia de paz, eles transmitem harmonia, esperança, simplicidade e felicidade reencontrada. Automaticamente, entendi o porquê de um pombo ter pousado na minha cama (e redecorado o meu quarto com as suas necessidades, aliás): esta é a fase que estou, é a fase que eu quero estar.
Sei que o final de ano nos reserva esse sentimento de renovações, de novos ciclos, mas eu preferi começar agora mesmo. Um mês antes. Eu preferi visualizar a cena toda de um modo diferente (com umas horas de atraso, mas tudo bem). A hora é agora: eu não quero ter que receber a visita de nenhum corvo para procurar o que de putrefato ainda mantenho na minha vida. Eu quero iniciar uma nova fase – e ela começa hoje. Assim, aos poucos, a gente reencontra a felicidade que perdeu dentro de nós mesmos. Até porque, há pombos que vêm para o bem.