Fui ao médico no mês passado porque queria saber se estava tudo bem com o meu coração - falo da sua estrutura, da pressão arterial, e não dos sentimentos e da bagunça interna. Entre um exame e outro, o médico resolveu verificar as veias das minhas pernas e acabou descobrindo algo que eu nem tinha sequer cogitado examinar. Até aí, tudo maravilhoso. O problema mesmo foi o jeito que ele me noticiou tudo aquilo que ia encontrando pelo meu corpo: nada delicado. Pensei que ia morrer. Sério.
O doutor fez questão de repetir umas 17 vezes que as minhas veias estavam maiores do que o normal, e a sua voz era tão arrastada que eu, ansioso que só, tratei logo de me autodiagnosticar: aquele era o meu fim. Neste meio tempo, o meu cardiologista “de verdade” (e não o médico-examinador-assusta-pacientes) entrou na sala e perguntou se tudo estava bem. Como eu sou uma pessoa sem papas na língua, soltei uma risadinha forçada e falei que a última coisa que me restava era saber quanto tempo de vida eu tinha pela frente. Ambos os médicos riram. Já eu, fiquei sério.
Fiz questão de deixar claro que, pelo jeito que eu recebi as constatações do médico-examinador ao navegar com aquele aparelho (potencialmente roubado dos extraterrestres) pelo meu corpo, a única linha possível de pensamento lógico era acreditar que eu estava mal das pernas - literalmente.
Percebendo a burrada, o examinador disse que estava tudo bem, mas é óbvio que para um neurótico como eu isso não foi o suficiente. Precisei sentar frente a frente com o meu cardiologista para averiguar se de fato eu não estava no grupo de risco daqueles que já estão partindo dessa para uma melhor. Foi aí que o meu médico foi exatamente tudo aquilo que o examinador não tinha sido: gentil. Afinal, gentileza e empatia são duas características que não custam absolutamente nada. E, olha só, eu adoro (e aposto que você que me lê também).
Saí do consultório e comecei a listar mentalmente tudo aquilo que não nos custa e que, mesmo assim, refutamos em colocar em prática. Aqui no meu prédio, por exemplo, tem uma vizinha que nunca responde o meu bom dia no elevador ou nos corredores. Já pensei em perguntar para ela o que diabos eu fiz para não merecer a reciprocidade do cumprimento, mas tem algumas coisas que a gente simplesmente deixa pra lá porque percebe que o problema está nos outros, e não em nós. Sejamos, então. Empáticos, gentis. Preocupados. Solícitos. Respeitosos.
Eu adoro desejar um bom trabalho para a atendente da loja da esquina, fazer uma brincadeirinha com a empacotadora do supermercado que conta para a moça do caixa sua história de amor que chegou ao fim, chamar um amigo só para perguntar se ele está bem, agradecer as pequenas coisas, elogiar alguém sem pretensão alguma, e por aí vai. Por quê? Bom... É que não custa nada mesmo.
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