A coluna desta sexta-feira (8) é uma espécie de portal para a celebração do Dia Internacional da Mulher, por meio da literatura. Jornalistas do Jornal Pioneiro, Rádio Gaúcha Serra e GZH, dão dicas preciosas de livros que contribuem para o fortalecimento do protagonismo feminino. Boas leituras!
Tríssia Ordovás Sartori, editora-chefe
— Annie Ernaux talvez seja a mais incensada entre as últimas ganhadoras do Nobel de Literatura (o dela, em 2022). É reconhecida pela potência dos textos curtos e autobiográficos. Nesse livro, conta sobre o relacionamento que teve, aos 54 anos, com um estudante 30 anos mais novo "que poderia ser filho dela". Entram em pauta o desejo feminino, a passagem do tempo, os estereótipos e a memória. Li o livro todo, que é curtinho, em uma só vez, meio que prendendo a respiração. Ela mostra a urgência de fruição da vida, que sempre é bonita e fica ainda mais interessante em uma mulher madura que não tem medo de ser quem é.
Gabriela Alves, repórter
—Terminei essa leitura recentemente e me deparei com muitos dilemas da vida da mulher, principalmente, as de vinte e poucos anos. Nele, a personagem principal, Esther Greenwood, lida com as escolhas para o futuro, a angústia e a ansiedade do "será que vai dar certo?", saúde mental e o papel da mulher na sociedade e nos relacionamentos. Para quem tem dúvidas sobre o futuro e, principalmente, tem medo de "desperdiçar" o tempo com escolhas erradas, A redoma de vidro é quase que uma provocação para pensarmos no que realmente queremos e nas escolhas que tomamos.
Juliana Bevilaqua, colunista de Economia
— Adoro o trabalho da Daniela Arbex. Para mim, é uma das melhores jornalistas do país. Neste livro, Dani mostra ao Brasil a história da médium mineira Isabel Salomão de Campos, uma mulher de coragem com uma vida dedicada a fazer o bem ao próximo.
Flavia Terres, repórter
— Sempre fui fascinada por histórias e, em 2021, encontrei o provável melhor livro baseado em fatos reais que já li. Virginia Hall foi considerada pela polícia secreta nazista como a espiã mais perigosa entre todos. A estadunidense começou a atuar na Inglaterra durante a Segunda Guerra e, em meio a interceptações de ações nazistas, treinamentos de células de resistência e captura e morte de oficiais alemães, foi perseguida por anos, mas nunca capturada. A atuação em meio a um ambiente majoritariamente ocupado por homens, em meados de 1940, e a persistência que teve por acreditar no trabalho que exercia, deixa a admiração pelo posicionamento e firmeza que a tornou a mais condecorada após a guerra. A história contada no livro levanta os holofotes para a inteligência de Virginia, com táticas usadas até hoje pela CIA, e deixa o questionamento sobre onde nós, mulheres, estaríamos hoje se desde os primórdios pudéssemos ocupar lugares que antes precisávamos de autorizações (e olhares tortos) para chegar.
Camila Boff, chefe de reportagem
— Muitas páginas já foram impressas para discutir sobre o amor, mas quando uma mulher negra, teórica feminista e ativista antirracista se debruça sobre o tema, o resultado é arrebatador. Em torno da ideia central de que o amor não é apenas um sentimento, mas uma ação, a autora norte-americana defende a tese de que a construção de uma ética amorosa é capaz de transformar a sociedade. E o que isso tem a ver com as mulheres, afinal? hooks demonstra, com situações muito comuns a todas nós, que o caminho passa por reconhecer entendimentos tortos que construímos a respeito desse tema tão presente e, ao mesmo tempo, tão banalizado nos nossos dias. A partir disso, nos convencemos de que uma visão amorosa sobre o mundo não é sinal de fraqueza, mas de força a ser usada contra uma cultura de abuso e violência. É mais do que um convite a abraçar essa potência, tão feminina, capaz de edificar tempos melhores para todos nós.
Alana Fernandes, repórter
— Eu ganhei esse livro de uma amiga muito querida quando estava grávida do Caetano, em 2019. A Rita fala sobre a gestação e os primeiros meses de vida do bebê com humor, certa leveza, mas com (várias) pitadas de verdade, já te preparando para o que está por vir. Parece uma amiga mesmo, sabe? Foi ali que eu li uma frase que uso até hoje: "eu era uma ótima mãe, até que meu filho nasceu".
Carolina Kloss, chefe de reportagem
— Uma baita livro que, mesmo 75 depois de ter sido lançado, segue sendo um clássico e leitura obrigatória pra quem quer entender um pouco sobre as questões de gênero. Brilhantemente articulada por essa autora que sempre tratou de empoderamento e feminismo, nessa obra ela faz uma análise da condição da mulher na sociedade (em 1949!) que vai além do aspecto biológico: ela foca nas relações sociais e culturais para colocar em discussão as premissas que sustentam a (suposta) inferioridade da mulher em relação ao homem. Humanista, o livro, dividido em dois volumes, Fatos e Mitos e A Experiência Vivida, ainda rebate teorias sobre a feminilidade e nos faz pensar no futuro.