A partir desta segunda (26) até sexta-feira (30), vou publicar aqui na coluna 3por4 uma revisão deste ano que se despede, por meio do olhar dos artistas aqui da Serra. Mais do que simplesmente apontar erros e acertos, a ideia é compartilhar leituras, interpretações, audições, cenas, enfim, o material sensível, que no final das contas, é o que sustenta nossa humanidade de pé.
Nesta segunda-feira, autores, professores e leitores avaliam quais foram os três livros que “fizeram a sua cabeça” em 2022. A lista é pequena, pra justamente provocar um desafio ainda maior, mesmo que alguns tenham subvertido essa orientação. Com vocês, a seguir, as obras que trouxeram alento, desatino, esperança e maravilhamento em prosa, verso e até em reportagem.
Maya Falks,
escritora e patrona da Feira do Livro de Caxias do Sul em 2022
- “Morena, uma história de amor e guerra”, de Matusalem Ferreira. O livro foi o vencedor do prêmio Vivita Cartier de 2022, o qual eu fui jurada. Matusalem fez uma pesquisa histórica muito profunda e colocou sua protagonista Carolina nos mais importantes acontecimentos do RS ao longo de sua vida. A fonte de inspiração foi sua própria família e me surpreendeu quando ele contou, em mesa realizada na Feira do Livro, que apesar da inspiração familiar e do uso dos fatos históricos, a história em si é uma ficção, porque ela ficou perfeitamente encaixada em seu contexto e muito bem trabalhada. É um livro com fôlego, com força e com muita emoção.
- “Aves Marias, ou a revoada”, de Isabela Penov. Trata-se de uma coletânea poética da poeta paulista Isabela Penov, que inclusive lançou há pouco um novo livro de poemas tão impactante e incrível quanto esse (e ainda mais original, porque ela usa prontuários médicos e bulas de remédios para seus poemas), mas o lançamento li ano passado por conta do meu trabalho de leitura crítica. Neste que indico, ela explora as nuances da mulheridade em uma sociedade misógina com uma força que arrebata e torna Isabela uma das poetas contemporâneas que mais admiro.
- “Uma tristeza Infinita”, de Antônio Xerxenesky. O livro do gaúcho Xerxenesky ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura. Li o livro meio às pressas porque tínhamos uma mesa agendada para a Feira do Livro, mas o autor adoeceu às vésperas. O livro trata de saúde mental, mas muito mais do que simplesmente expor patologias ou fazer uma literatura panfletária, ele explora o lado humano de quem tem a responsabilidade do tratamento. A história se passa em uma pequena vila na Suíça, logo depois do término da Segunda Guerra Mundial, e o protagonista é um psiquiatra em um tempo em que depressão ainda levava o nome de “melancolia”. Tudo era experimental, muitas doenças sequer tinham sido identificadas ainda, e o livro nos apresenta os conflitos desse profissional que deve auxiliar o doente, mas que ele mesmo é suscetível ao sofrimento psíquico.
Adriana Antunes,
escritora, jornalista, psicanalista e cronista do Pioneiro
- “Inventário dos predadores domésticos”, da Verena Cavalcante, da Darkside, bah um soco no estômago. Os adultos são o inferno. Maravilhoso.
- “Extração da pedra da loucura”, da Alejandra Pizarnik, pela Relicário, que amo demais tanto a editora quanto a poesia dela, a dor, a melancolia, o modo como usa a linguagem, demais de bom. Dolorido e lindo.
- E, claro, “Neblina na tarde fria”, de Marcelo Mugnol, que é escrito de um modo jornalístico-poético, humano, entrelaçando vida, cotidiano e outras instâncias do ser.
Magda Torresini,
professora e ávida leitora
- “Pandemia: histórias que contei”, de Aline Ecker.
- “O drink de Vênus”, de Lisana Bertussi.
- “Ponha-se no seu lugar”, de Geneviève Faé.
Delcio Agliardi,
escritor e professor
- “Pequena coreografia do adeus”, de Aline Bei, lemos em voz alta, eu e a Patrícia, pois é outra experiência leitora.
- “Lugares que esperam”, de Suzana Pagot, autora que reside em Caxias.
- “Diário de um corpo”, de Daniel Pennac, estamos terminando a leitura, em voz alta, pausas para comentários, levamos o livro para a cama e para viagens (risos).
Cristiano Bartz Gomes,
ex-coordenador executivo da Feira do Livro de Caxias
- “Histórias”, de O. Henry, contos.
- “Santuário”, de Maya Falks, novela.
- “Subliminar”, de Leonard Mlodinow, divulgação cientifica.
Marco de Menezes,
médico e poeta
- “Risque essa palavra”, de Ana Martins Marques, poesia.
- “A tempestade é metáfora”, de Dinarte Albuquerque Filho, poesia.
- “Mestres antigos”, de Thomas Bernhard, prosa.
- “Bicho geográfico”, de Bernardo Brayner, prosa.
- “Tudo sobre o amor: novas perspectivas”, de Bell Hooks, ensaio.
Marcos Fernando Kirst,
escritor e jornalista
- “O Fantasma da Ópera”, novela do francês Gaston Leroux, um dos mestres do mistério e do suspense, lançado pela primeira vez em 1909. Afinal, um clássico sempre é um clássico.
- “As Convidadas”, reunião de contos fantásticos e perturbadores da escritora argentina Silvina Ocampo, lançada pela primeira vez em 1961.
- “Adriano Chupim”, romance do escritor radicado em Caxias do Sul Paulo Damin, dono de uma prosa narrativa única e surpreendente, lançado em 2021.
Nil Kremer,
poeta e professora
- “É chegado o tempo de voltar à superfície”, de Alberto Pucheu, que deflagra a inquietude diante das atrocidades do nosso tempo, que só a poesia é capaz de revelar.
- “A tempestade é metáfora”, marca a maturidade da escrita poética do poeta Dinarte Albuquerque Filho, em que a concisão se mostra imensa.
- A sensibilidade com que é tratada a escuta, fator fundamental do ofício jornalístico, mostra-se evidente na escrita em prosa poética, de “Neblina na tarde fria”, de Marcelo Mugnol.