Observo com olhar filosófico o que a passagem do tempo provoca nos seres e nas coisas. Coloco uma lupa para escrutinar melhor ideias e conceitos presentes na existência de meus amigos. E em mim também. Muitos se aferram a pensamentos incrustrados em sua personalidade, recusando-se a absorver as mudanças propostas. “Eu sou dessa maneira e assim morrerei”, orgulham-se tantos, do alto de suas verdades raramente testadas à luz da razão. Parece mais fácil decorar o script recebido pronto, sem a necessidade de criar um roteiro original. Estou ciente da necessidade de uma vigília mental permanente para não ver com estranheza a geração vindoura. Acho um desperdício atravessar a maturidade sem se submeter a revisionismos. Somos o rio de Heráclito, sempre outro, eterna correnteza desembocando no desconhecido. E com essa percepção da fluidez acompanho os fatos desenrolando-se ao meu redor. Posso deixar de entender algo, mas possuo o mérito de tentar. Aqui vão dois exemplos contundentes, exigindo de nós o abandono do que considerávamos definitivo.
Metaverso. Sei pouquíssimo sobre, mas leio e assisto vídeos para me informar do que se trata. Converso com pessoas envolvidas e recebo relatos absolutamente fascinantes. Com ou sem a nossa resistência, ele está nos esperando num futuro bem próximo. É um mundo paralelo e já não pertence mais às páginas das obras de ficção científica. Serão criados avatares e, de certa maneira, faremos experiências parecidas às de hoje. Aliás, quem poderá dizer onde começa ou termina a realidade como a conhecemos e descrevemos? Segundo o escritor Carlos Castaneda, sem a presença do ser humano o universo desapareceria. Sustentamo-lo através do cérebro, dos sentidos. É um tema fascinante e desperta grande curiosidade. Eis uma palavra a ser colocada no centro de qualquer processo de aprendizagem. Estou distante de querer comprar um imóvel ou um quadro em NFT neste espaço imaginário. Mas me parece bom demais acompanhar a evolução dessa nova paisagem.
Por fim, busco compreender a linguagem da gurizada que vive a sua sexualidade com liberdade inédita. Não tenho ainda amigo ou amiga pedindo para ser chamada pelo pronome “elu”. Mas me acostumarei quando isso acontecer. Com o “todes”, idem. Ao contrário de tantos, percebo a linguagem como algo vivo, dinâmico, que vai evoluindo junto com os costumes. O importante é cada um ser feliz do jeito mais conveniente aos seus anseios e inclinações. O essencial é definido individualmente. Da mesma forma, vejo com simpatia o fato da bissexualidade estar se expandindo tanto. Antes imperavam diversos preconceitos culturais, sobrepondo-se à expressão natural do desejo. Você tem interesse no assunto? Assista à série Heartstopper, da Netflix. É bem didática.
Pronto. Se formos capazes de acolher sem resmungos as cenas dos próximos capítulos renovaremos as células da alma, rumo a uma insuspeitada juventude.