É preciso acolher as novidades, sob o risco de nos tornarmos obsoletos. Mas alguns pilares que nos sustentam (e atravessaram os séculos) não podem ser esquecidos. Busco sabedoria e amizade em seres que viveram há mais de cem, de mil anos. Poetas e filósofos são companhias que estão comigo desde a juventude. Mas não deixo de aprender com quem é jovem, pois preciso do seu fulgor, do desejo que transborda, para renovar meu gosto pela vida. Nesta semana, conversando com o Lucca, meu estagiário, me dei conta que tenho o triplo de sua idade. Depois do espanto inicial, percebi que nossos encontros não são permeados por nenhum abismo geracional. Em comum nutrimos o amor pelo cinema, mas nos divertimos falando sobre tudo, como se fôssemos colegas da mesma turma. Sei que fisicamente se evidenciam as diferenças entre meu nascimento e o dele, mas desconfio que elas param por aí. Mostro a quem é muito mais novo a beleza de absorver o conhecimento sedimentado pelo tempo. Que procurem não se enganar acreditando que o mais importante está sendo feito por eles, nesta época. Um olhar mais amplo nos devolve a consciência de que somos apenas uma figura de um imenso xadrez. Hoje caem algumas peças, amanhã outras. Nosso destino é cumprir determinadas tarefas, semear um pouco de afeto e deixar nosso lugar livre para outros ocuparem. Nada mais.
Opinião
Gilmar Marcílio: o antigo e o novo
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Gilmar Marcílio
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