Talvez um dos maiores desafios da epidemia seja conseguir manter a saúde mental e emocional, durante o confinamento, com pessoas que pensam tão diferentes entre si. Não é fácil para nenhum de nós. Penso que olhar para isso tudo e aceitar este momento como se estivéssemos em processo de aprendizado, pode ajudar.
Aos poucos vamos percebendo nosso cotidiano se alterar. Aos poucos parece que nossos pais e avós queridos se dão conta da gravidade da situação e já não negam como antes. Aos poucos vamos descascando nossa própria pele e nos renovando para enfrentar os dias que ainda se seguirão. Aos poucos a sensação de que estamos dentro de um filme de ficção científica, diminui, e descobrimos que a vida pode ainda ser mais absurda que o cinema. Aos poucos abrimos espaço para nós mesmos e aí nossos demônios também se sentem à vontade para aparecer. Por isso, olhar para esse tempo como se fosse um mestre a nos ensinar algo que está além da nossa capacidade de entendimento minúsculo, me parece fundamental.
É preciso que tenhamos paciência, conosco e com as pessoas com as quais convivemos. Ter paciência é aprender a conviver com a incerteza ouvindo o que ela nos diz. Quando passamos pela vida de modo muito acelerado, coisa que vínhamos fazendo, não temos tempo para nos angustiar com o que é certo ou incerto e nem para aprender as lições que se estavam apresentando. É muito difícil ser paciente, mas a paciência pode ser uma grande aliada neste momento tão incerto. E como fazemos para ter paciência, você deve estar se perguntando. Desacelerando de fato. Nos ouvindo e percebendo qual parte de nós ainda está tão acelerada e qual principia um apaziguamento e então seguir a nossa parte mais lenta. Se sua cabeça não para de pensar e de ler e assistir notícias e informações, siga seu coração e vá regar as plantinhas do jardim ou da sacada, vá acariciar o seu pet, vá para a janela e observe o dia, as nuvens, as estrelas, beba água e sinta como cada gole tomado pode ser visto como um milagre.
Se seu coração se angustia demais, dói, aperta, use a cabeça e vá ler um livro de poesia, ouvir uma música, desenhar, arrumar o armário, organizar a caixa de ferramentas. Se o coração e a mente estão juntos nessa emboscada de nos derrubar, use o corpo, mexa-se, alongue-se e amplie seu espaço interno. Construa uma pausa entre coração, mente e corpo e então me mande um e-mail. Dentro dessa redescoberta de cotidiano, criei um projeto chamado palavras de dentro, em que convido as pessoas que me leem a me escreverem emails (cartas) contando de seus cotidianos, medos, dores e angústias. Assim compartilhamos essa experiência e nos ajudamos a amenizar futuros traumas. Sintam-se convidados a participar: projetopalavrasdedentro@gmail.com