Esse foi o nome que demos para o bichano que encontramos abandonado na beira da estrada, na semana passada. Pernilongo é igual ao Feio, outro gato que tive na infância. Machucado, assustado e extremamente magro, Pernilongo oscilava entre confiar na minha oferta de ajuda ou fugir. Se estivesse na situação dele, também desconfiaria, afinal, o ser humano é do mal. No fim, o estômago falou mais alto e ele se deixou vir para meu colo. O dia já havia caído e a noite se aproximara rapidamente. Estávamos chegando de uma viagem de carro de 12 horas. Apesar do cansaço, vimos os olhos do bichano brilharem no escuro. Manobramos o carro, ligamos o sinal de alerta e lá fui eu conversar com ele e tentar entender o que estava acontecendo. Passado o medo, Pernilongo começou com seus brubrus e ronrons. Veio para o meu colo e já em casa, depois de comer muito, porque a fome era do tamanho do abandono, quase dez da noite, lá estávamos ligando para uma querida amiga de infância, formada em veterinária, para nos dizer quais seriam os próximos procedimentos. Bem, faz uma semana que Pernilongo está conosco.
Ele tem cerca de 8 meses de vida e já descobriu que esse mundo é muito esquisito. Compartilho da estranheza do pequeno, afinal, como as pessoas podem dizer que acreditam em Deus, escrever textões nas redes sociais falando sobre amor e gentileza, votar pelo fim da corrupção e tratar os animais com tamanho descaso? Será que pensam que os bichos são objetos? Sociedade esquizofrênica. Resultado: Pernilongo tem muitas cicatrizes (não se sabe se atropelado, mordido por cães, ou maus-tratos) e esta com seis costelas quebradas. Mas agora está medicado, foi castrado e não tem nenhuma outra doença. Ah sim, Pernilongo precisa de um lar. Sabem o que mais me impressiona (e a vida sempre nos ensina tanto) que apesar do abandono, dos machucados, da fome, Pernilongo ronrona o tempo todo, fecha os olhinhos, se espreguiça mostrando a barriga, e devolve a acolhida com conversa e carinho. Fico pensando, será que esses bichos não são mais evoluídos que nós? Quanta resiliência, quanta capacidade de voltar a confiar e se entregar.
Antes que meu espaço de texto encerre, preciso agradecer a ajuda de uma rede de pessoas que nasceram com a alma iluminada: as veterinária Giovanna Casagrande, da Conforto Animal, Raquel Redaelli, da Gatices, Malu da Pet Center Santa Lúcia e Simone da Ong Peludos em Apuros, pela ajuda com o Pernilongo, com os gatos do Gatil da Bebel, com o pequeno Fred e com todos os outros inúmeros animais que já resgatamos e continuaremos a resgatar. Acredito que o desejo de nos tornarmos pessoas melhores passa pelas pequenas atitudes como cumprimentar o porteiro, plantar uma árvore, segurar o elevador para as outras pessoas, resgatar um animal abandonado, ser grato à vida pelo que temos. Todo dia é uma nova chance de tentar ser um pouco melhor. Todo dia.
P.S. Interessados no Pernilongo, é só mandar um e-mail.