Não dá para medir as coisas importantes com uma fita métrica, nem lhe atribuir um preço. As coisas mais importantes da vida habitam o miúdo das delicadezas e, na maioria das vezes, nem nos damos conta. Está no sorriso do estranho quando você pára o carro para ele atravessar a rua, está num bolso cheio de pedrinhas especiais coletadas num passeio pelo jardim, está no ronrom do gato se aninhando para dormir, nos dedos da pessoa amada que massageiam a nuca depois de um dia cansativo ou num beijo amoroso dado em meio a louça de um almoço de um dia qualquer. Esses pequenos gestos são os melhores presentes do mundo. Observo as pessoas entrando cada vez mais numa roda de samsara buscando presentes para o Natal. Se endividando, consumindo. Eu acredito no poder das delicadezas. Acredito na beleza das palavras escritas num bilhete de amor, no encontro de olhares sejam eles amorosos ou de pedidos de perdão, acredito na força de um abraço dado de corpo inteiro, encostando coração com coração, na alegria que um buque de flores colhidas pelo jardim, rua, mato. Poucas coisas são mais afetuosas do que ganhar o seu bolo preferido de presente, feito pela própria pessoa. Esses presentes plenos de delicadezas são mais do que apenas os objetos em si, são o tempo do outro dedicado a nós. Gosto da ideia de importar-se com o outro. Importar-se tem a ver com o dar de si, dentro do outro.
Opinião
Adriana Antunes: as coisas mais importantes
Importar-se tem a ver com o dar de si, dentro do outro
Adriana Antunes
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