Uma vida sendo reconstruída com sonhos para o futuro. É assim que Vera Lúcia Ré, amiga de Jaquiela Mocellin, de 40 anos, morta pelo ex-companheiro na segunda-feira (19), em Marau, define o momento que a amiga estava passando. Vera conheceu Jaquiela em Itá (SC), cidade natal da vítima, há cerca de 11 anos. Mas foi em Marau, no norte gaúcho, distante 183 quilômetros da cidade, que a amizade se fortaleceu.
Vera veio trabalhar numa indústria de plásticos de Marau. Meses depois, a irmã da vítima e seu companheiro também saíram de Itá com o mesmo objetivo. Posteriormente, foi a vez de Jaquiela e um ex-namorado — que não era o autor do crime —, deixarem o estado catarinense para trabalhar na mesma empresa. A vítima era operadora de máquina na empresa.
— Nós viemos em três casais, na época, para trabalhar na mesma empresa. A Jaquiela era mais que uma colega de trabalho, era uma amiga, desde Santa Catarina. Ela era muito alegre, querida, só pensava em trabalhar, em ajudar os outros. Uma pessoa maravilhosa de se conviver, era uma grande amizade que a gente tinha — afirma a amiga da vítima.
Recuperada de cirurgia e com novo relacionamento
De acordo com Vera, Jaquiela estava em um novo relacionamento, há cerca de dois meses. Ela estava feliz, pensando em planos de ter filhos com o namorado, no futuro.
— Ela tinha conhecido uma pessoa, estava namorando, feliz. Disse que estava na melhor fase da vida dela. Tinha conhecido uma pessoa boa, que ia fazer ela feliz. Ela havia falado para uma amiga nossa em comum que sonhava em ser mãe, que tinha achado a pessoa certa para ser feliz. Só que, infelizmente, o 'ex' dela não aceitava que ela não o quisesse mais e daí fez essa loucura — lamenta Vera.

A irmã mais nova da vítima, Geandra Mocellin, de 34 anos, relata que Jaquiela estava em novo momento. Ela teria realizado uma cirurgia no coração, em 2021, que a preocupava bastante, mas que, por fim, teve sucesso.
— Ela estava feliz que havia se recuperado bem da cirurgia, que tinha passado um tempo para se cuidar. Agora que ela tinha achado alguém legal, ela ia tentar ter um filho. Ela tinha medo pela idade, mas a gente incentivava dela. Ela sonhava com isso e em encontrar a pessoa certa para tentar ser mãe — declara a irmã.

Geandra está em Itá, onde participou do enterro da irmã na terça-feira (20), na cidade em que a família vive. Retornar para Marau, no entanto, será uma tarefa difícil, pela tristeza de não ter mais com quem dividir as conversas rotineiras, já que as duas dividiam o mesmo setor e o mesmo horário de trabalho diariamente.
— É muito difícil, porque éramos só eu e ela em Marau. A família mora longe. Então, era tudo eu, junto do meu marido. Passamos por esse momento difícil da cirurgia junto com ela. Ela superou tudo, estava bem, se reconstruindo e feliz. Agora acontece isso. É muito triste — lamenta.
No dia a dia, Geandra conta que a irmã não conseguia "parar em casa". Segundo ela, sempre estava envolvida com os amigos.
— Ela tinha muitos amigos, quase não parava em casa. Sempre estava numa amiga, tomando chimarrão, saindo, indo em matinês, se divertindo. Ela era assim. Uma pessoa maravilhosa, que ajudava muito as pessoas — finaliza.
Jaquiela deixou os pais, quatro irmãos (três mulheres e um homem) e o namorado.
O feminicídio
De acordo com a Brigada Militar, Julio César da Silva Cunha esfaqueou Jaquiela com três golpes, por volta das 9h30min de segunda-feira (19), no pátio da residência em que a vítima morava, no bairro Nova Alternativa.

Após o crime, o homem fugiu em um veículo KA, pela RS-324. Em Vila Maria, por volta das 10h30min, Julio César colidiu frontalmente com uma carreta e morreu no local.
Cerca de uma hora depois, Jaquiela, que estava internada no Hospital Cristo Redentor, em Marau, não resistiu aos ferimentos e morreu.
Sem antecedentes
De acordo com a Polícia Civil de Marau, Jaquiela e Júlio César estavam separados há, pelo menos, cinco anos. Segundo o delegado Norberto Rodrigues, não havia denúncia de violência envolvendo os dois. O inquérito policial foi encerrado pela Polícia Civil e será encaminhado ao Poder Judiciário.
GZH Passo Fundo
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