Por Julcemar Bruno Zilli, economista
Os preços do milho no Brasil seguem em trajetória de queda, com declínio mais expressivo observado nos últimos dias. A cotação da saca de milho na região de Passo Fundo está em R$ 65,00/saca, em comparação com R$ 79,00 há 30 dias. Isso indica uma diminuição no preço da saca de milho na região durante esse período de 17,72% no período.
A causa da queda de preço é atribuída à menor demanda, ao aumento da oferta em todas as regiões devido ao ritmo da colheita da safra de verão e ao crescimento favorável da safrinha. Os produtores estão focados na safra de soja, que deve atingir níveis recordes de produção. Enquanto isso, os compradores estão evitando comprar milho, antecipando novas quedas de preços, principalmente no segundo semestre, quando se inicia a segunda safra. Com isso, os produtores podem voltar o foco para o milho segunda safra, o que pode acelerar o ritmo de sua colheita. No entanto, esse aumento pode não ser suficiente para contrabalançar o aumento da oferta do milho primeira safra.
Compradores têm se mantido afastados das aquisições de milho, aguardando uma redução ainda mais expressiva nos preços. A incerteza em relação ao cenário econômico e a expectativa de uma maior oferta de milho com a colheita da segunda safra levam os compradores a adotar uma postura mais cautelosa, buscando negociar em momentos de preços mais baixos.
As condições climáticas favoráveis proporcionam um desenvolvimento satisfatório das lavouras, o que tem contribuído para o aumento da oferta do grão. Com a expectativa de uma safra cheia, os produtores podem estar buscando antecipar a colheita da soja, para poderem dar início à semeadura da segunda safra de milho o mais cedo possível, o que também contribui para a pressão sobre os preços do milho.
A queda no preço do grão pode ter efeitos na inflação brasileira e na região de Passo Fundo, uma vez que o milho é um dos principais ingredientes na alimentação animal e também é utilizado em muitos produtos alimentícios: I) a queda no preço do milho pode reduzir os custos de produção para os agricultores que utilizam o milho como insumo em suas atividades, como produtores de aves, suínos e bovinos. Isso pode levar a uma redução nos preços dos produtos alimentícios desses setores, como carne de frango, carne suína e carne bovina, o que pode impactar positivamente a inflação, principalmente em regiões onde esses setores são significativos; II) pode haver um aumento na oferta de alimentos que utilizam o milho como insumo, como ração animal, cereais, óleos vegetais, entre outros; III) o milho é insumo importante em muitas indústrias alimentícias, e uma queda no seu preço pode impactar positivamente a competitividade dessas indústrias. Com custos de produção mais baixos, as indústrias podem reduzir os preços de seus produtos, o que pode influenciar a inflação ao nível regional e nacional, dependendo do alcance dessas indústrias; IV) preço em queda pode afetar o comércio internacional desse produto, tanto nas exportações quanto nas importações.
Com a menor demanda e a perspectiva de preços ainda mais baixos, muitos produtores têm buscado adiar suas vendas, na esperança de obter melhores valores no futuro. No entanto, essa estratégia pode não ser vantajosa a longo prazo, uma vez que a expectativa é de que a oferta de milho continue aumentando, o que pode resultar em uma pressão ainda maior sobre os preços. Cresce a importância de os produtores adotarem uma estratégia de comercialização consciente, considerando as condições atuais do mercado e as projeções futuras. É fundamental que os produtores avaliem seus custos de produção, sua capacidade de armazenagem e sua necessidade de fluxo de caixa, para tomar decisões embasadas sobre o momento mais adequado para realizar suas vendas.
Além disso, é fundamental que os produtores busquem manejar seus custos de produção de forma eficiente, identificando oportunidades de redução de gastos e aumento de produtividade. A adoção de tecnologias de manejo, como a utilização de sementes mais resistentes e o controle adequado de pragas e doenças, pode contribuir para a redução de custos e o aumento da rentabilidade da atividade.
Em resumo, os preços do milho no Brasil seguem em queda, pressionados pela menor demanda, pela colheita recorde de soja e pelo desenvolvimento satisfatório da segunda safra de milho. Produtores têm buscado adiar vendas, mas é fundamental adotar uma estratégia de comercialização consciente, avaliando custos de produção, capacidade de armazenagem e necessidades de fluxo de caixa. A diversificação de produtos e a redução de custos de produção podem ser alternativas para enfrentar o cenário desafiador. Compradores, por sua vez, devem estar atentos às flutuações de preço e oferta, avaliando as projeções de oferta e demanda e aproveitando possíveis oportunidades de compra vantajosas. A gestão adequada dos estoques e o acompanhamento das projeções de oferta e demanda são essenciais para tomar decisões. A colaboração entre os elos da cadeia produtiva pode ser uma alternativa para enfrentar os desafios e buscar soluções conjuntas.