Celebrado no dia 2 de novembro, o feriado nacional do Dia dos Finados tem um significado diferente para cada religião. A Igreja Católica, por exemplo, utiliza a data para recordar lembranças de familiares e amigos já falecidos.
A origem da celebração remete ao século 2, quando os cristãos começaram a rezar pelos falecidos e a visitar seus túmulos. E é durante o final de semana do feriado, que milhares de pessoas participam de ritos religiosos, além de adornar jazigos com flores.
A data pode ganhar aspectos diferentes conforme a cultura e a crença de cada um. A reportagem de GZH Passo Fundo conversou com representantes de religiões atuantes em Passo Fundo, no norte gaúcho, e explica como cada uma celebra a morte.
Judaísmo
Para os judeus, não há uma data para celebrar os finados como fazem os cristãos. Segundo o presidente e líder espiritual da Sociedade União Israelita de Passo Fundo, Berel Natan Engelman, no judaísmo a lembrança dos entes acontece conforme suas datas de falecimento. Para eles, a celebração é chamada de Yortzait.
— A data de falecimento pode ser lembrada com orações específicas nas sinagogas e também nos cemitérios israelitas — explica.
Em Passo Fundo, o cemitério israelita foi fundado em 1924. Na tradição judaica, a morte é vista com tristeza, mas não com aflição.
Espiritismo
Para os espíritas, falar sobre a morte é refletir sobre um fenômeno biológico natural que atinge todos os seres vivos, incluindo o ser humano. O espiritismo não considera a morte como um "nunca mais", mas sim como um "até breve", como explica Paulo Afonso Eberhardt, presidente do Centro Espírita de Caridade Dias da Cruz.
— Assim como tudo que possui vida orgânica e biológica tem seu ciclo e um momento de transição, a morte é parte dessa trajetória. O que realmente acontece é que o espírito não morre, ele apenas se desprende da matéria perecível — disse.
Segundo Paulo, nenhum rito é praticado no Dia dos Finados. Tampouco velas são acesas. A data é lembrada como um momento de reflexão e homenagem aos que partiram.
— Se vamos ao cemitério, é para levar flores regadas de saudades e de lembranças dos bons momentos que vivemos juntos. Buscamos honrar a memória de nossos entes queridos com amor e esperança, confiando que a vida é eterna e que a verdadeira separação nunca acontece — afirma.
Umbanda
A umbanda, religião de matriz africana, acredita na permanência do espírito além do corpo e cultua os antepassados. Acredita-se que as almas seguem presentes com o objetivo de trazer aprendizados que tiveram durante sua caminhada terrena.
Para a umbanda, a celebração aos antepassados acontece em datas anteriores ao Dia dos Finados, normalmente no mês de outubro. O Xirê dos Ancestrais é o ritual realizado para aproximar-se de pessoas que morreram há pouco ou muito tempo, com o objetivo de fazer uma limpeza espiritual de dores, aflições e desentendimentos, como afirma, Rigoberto Franceschi, dirigente espiritual do Templo Guerreiros da Luz.
— Há um espécie de limpeza e purificação neste dia, para que aquelas pessoas que estão no outro plano possam ascender e crescer espiritualmente, assim como nós aqui. Recebemos uma herança emocional e espiritual e acreditamos que muitas das aflições que passamos aqui tem a ver com situações com nossos antepassados — explica.
Neste ano, o ritual aconteceu no dia 25 de outubro.
Budismo
A morte no contexto do budismo pode significar uma oportunidade de acessar o que a religião denomina como iluminação.
— No momento da morte, a pessoa pode ser guiada, ou através da sua própria prática de meditação, e acessar essa iluminação, ou uma visão clara da realidade — orienta o monge e coordenador da comunidade budista Shantideva, Daniel Confortin.
A prática do culto aos antepassados existe na maior parte das manifestações budistas. No Japão, o festival Obon, que acontece entre julho e agosto, cultua a celebração e oferece reverências e gratidão aos entes que morreram. Durante o feriado nacional, as famílias se reúnem e viajam até o local onde seus ancestrais estão enterrados para participar da cerimônia religiosa de Sejiki-e (Alimentar os Espíritos).
Segundo o monge, o movimento também acontece para além das tradições japonesas, como no budismo tibetano, tailandês, vietnamita e chinês.
— No Brasil, especialmente no nosso templo, no Águas da Compaixão, em Mato Castelhano, celebramos esse momento em processo de sincretismo religioso com as crenças cristãs. Então trazemos para 2 de novembro o aspecto de celebração daqueles que já se foram — disse.