Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
Há poucos dias, acompanhamos pela mídia a tragédia de Jéssica Vitória, jovem de 22 anos que tirou a própria vida depois de ataques que sofreu em uma página que veicula notícias falsas e fofocas pelas redes sociais. Inundaram as redes com prints falsos e fotos dela. Inventaram que tinha um caso com um humorista. O editor da página que veiculou essas fake news tentou se defender dizendo que “exerceu o direito à informação e que tem compromisso em agir com diligência, responsabilidade, respeito à intimidade, à privacidade e ao bem-estar”.
Se não fosse trágico, seria piada de péssimo gosto!
Maldade deliberada é como podemos chamar esse tipo de campanha, que surgiu em 2008 nos EUA, com jovens que passavam horas e horas nas redes sociais infernizando e colocando a vida dos outros em risco.
No Brasil, essa prática vem aumentando de intensidade e, agora, chegou a níveis insuportáveis
Gostavam de se divertir com o sofrimento que causavam, postando comentários sem qualquer propósito, a não ser o de arruinar a vida das pessoas. Tal era a maldade que, naquela época nos EUA, manipularam um concurso online onde as escolas competiam para receber um show de Taylor Swift. E deram a vitória a um centro de crianças surdas!
Muitos desses blogueiros e programadores tinham sérias dificuldades de se relacionar com as pessoas. Foram chamados de “a sociedade do vale-tudo”. Ou a “civilização da mente”, porque criaram um mundo paralelo, com suas próprias regras, que não era o mundo real, mas somente digital. Sentiam-se “diferentes” fazendo isso em uma sociedade que os excluía.
Nessa época, o sonho de muita gente do Vale do Silício era “a liberdade total, sem leis ou hierarquias”. Daí surgiu uma cultura de raiva e de conspiração, que vem transformando o mundo em um ambiente cada vez mais tóxico e perigoso.
No Brasil, essa prática vem aumentando de intensidade e, agora, chegou a níveis insuportáveis.
Na última semana, tivemos uma variação dessas maldades, só que fora das redes: vereadores da cidade de São Paulo tentaram criar uma CPI surreal para investigar o padre Júlio Lancellotti, que há muitos anos trabalha pelos moradores de rua da cidade.
Querem dificultar as ações do padre, que, segundo esses vereadores sem noção, incentivariam mais pessoas a escolher as ruas como seu lar!
Motivações diversas, um vale-tudo cruel para chamar atenção a qualquer preço! Mesmo que resulte em prejudicar seriamente as pessoas.
Estamos no início de 2024, momento de esperança e renovação. Que possamos incluir em nossos pedidos um ano em que os responsáveis por esse tipo de iniciativa sejam punidos e que a consciência da humanidade desperte para novos valores, mais humanos e menos perversos.