Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
Há muitos anos, durante um evento empresarial em NY, ouvi o então vice-presidente do Google dizer que as empresas tinham se tornado “de vidro”. As tecnologias propiciaram que mais gente soubesse quase tudo o que se passa dentro delas. Isso facilitou que se saiba o que pensam e praticam as pessoas que lideram as marcas que consumimos.
E que possamos decidir, conscientemente, se queremos continuar consumindo produtos e serviços de empresas que adotam determinados comportamentos.
Lembrei-me disso agora porque estamos diante de dois episódios distintos, gravíssimos. Um deles envolvendo um dos maiores varejistas do país, e outro, três das maiores vinícolas gaúchas.
O que eles têm em comum? A busca de resultados a qualquer custo, mesmo que seja desrespeitando as condições de trabalho ou utilizando uma “contabilidade criativa”.
Empresas são “seres vivos”. Suas decisões melhoram ou pioram a vida das sociedades em que atuam
Tratar mal funcionários e prestadores de serviço, pagar salários irrisórios e fazer demonstrações contábeis duvidosas são atitudes inaceitáveis.
Empresas são “seres vivos”. Suas decisões podem melhorar ou piorar a vida das sociedades em que atuam. As práticas dos gestores com seus colaboradores repercutem dentro das casas, atingem a saúde mental e emocional de cada um. Empresas que pioram nossas vidas já não são mais toleradas como eram no passado.
A sociedade de hoje quer boas práticas, bom ambiente de trabalho, empresas responsáveis e transparentes, que cuidem do ambiente onde atuam e tenham um propósito que vá muito além do lucro.
A exploração, o desejo de ganhar só para si sem se colocar no lugar do outro, não é algo que está relacionado a uma cultura ou à situação econômica de um país. Tem a ver com a consciência do ser humano. Tem a ver com gente cuidando de gente, do planeta. Acabei de ler o sensacional livro Banzeiro Òkòtó, da Eliane Brum, sobre a Amazônia, e estou chocado com a maldade e a capacidade destruidora do ser humano.
Raj Sisodia, em Capitalismo Consciente, defende que os negócios/lideranças devem se mover para construir um mundo melhor. Frederic Laloux, em Reinventando as Organizações, prega uma cultura organizacional na qual as empresas foquem as pessoas, a colaboração, o propósito, os valores humanos que vão levar a maior eficiência, inovação e satisfação das pessoas.
Essas teorias já saíram dos livros e estão sendo praticadas. É importante lembrar que por trás de um CNPJ temos vários CPFs.