Por Tâmara Biolo Soares, vice-presidente do Instituto Cidade Segura
Em 1936, em Boston, houve a primeira avaliação de impacto de alto padrão científico sobre um projeto de prevenção à violência. O estudo monitorou a trajetória de vida de 506 meninos de 5 a 13 anos de alta vulnerabilidade social que haviam sido acompanhados por tutores designados pelo Estado. Trinta anos depois, o estudo concluiu que esses jovens eram mais dependentes de álcool, tinham mais problemas de saúde mental e pior trajetória criminal do que os jovens que não foram acompanhados. Em razão desse resultado, o estado de Nova Iorque modificou suas leis sobre jovens em situação de risco social.
Esse estudo inaugurou a era da Prevenção à Violência Baseada em Evidências. Nos anos 1970 essa visão chegou aos departamentos de polícia dos EUA e até hoje mais de 5 mil estudos experimentais de prevenção e 150 sobre estratégias policiamento foram realizados no mundo.
No último dia 3 de julho na cidade Pelotas teve início o Estudo Piá - Primeira Infância Acolhida, que vai avaliar duas metodologias de prevenção para incentivar comportamentos positivos em mães e crianças: o Conte Comigo e o ACT – Criando Crianças Seguras. As crianças fazem parte da coorte de 2015 do renomado Centro de Epidemiologia da UFPEL, que vai medir o impacto das metodologias.
O projeto é uma ação de Prevenção da Violência do Pacto Pelotas Pela Paz e fruto da parceria entre Prefeitura de Pelotas, UFPEL, fundo britânico Welcome Trust, Comunitas e Instituto Cidade Segura, sob a coordenação do Professor Joseph Murray. As metodologias são aplicadas pelos visitadores do PIM - Primeira Infância Melhor e pelas coordenadoras das Escolas Municipais de Educação Infantil e, caso demonstrem resultados positivos, se tornarão políticas públicas universais na cidade.
Embora sejamos o país com mais homicídios no mundo, é a primeira vez que um estudo desse tipo é feito no Brasil. Modificar a forma reativa e imediatista como o tema é tratado, e produzir conhecimento sobre o que funciona e o que não funciona para reduzir a violência é o caminho para o país avançar como nação desenvolvida e democrática em direção à paz.