A multiplicação dos casos de fraude praticados por alunos brancos nas universidades públicas brasileiras para conseguirem vagas como negros escancara três questões muito sérias: o racismo, o vácuo ético e a imensa necessidade da continuação da política de cotas sociais e raciais.
Toda e qualquer estatística brasileira aponta a repetida exclusão da população negra das universidades, dos cargos políticos, dos empregos. Também estão entre os mais desrespeitados pelas autoridades do Estado, principalmente a policial. A elite branca nunca deixou os negros chegarem à cidadania plena. A chamada abolição da escravatura, em 1888, foi feita se precavendo de que negros e negras pudessem ter um lugar na sociedade branca.
É pela presença do racismo e do vácuo ético que a política de cotas deve ser reafirmada e ampliada
A fraude de estudantes brancos é a atualização do racismo. Quando os negros conquistaram, através de seus movimentos, possibilidade de disputar lugares nas melhores universidades do país, alguns estudantes brancos simplesmente tomaram de assalto estes lugares, como se fossem seus, por direito natural.
Para além do racismo, este comportamento criminoso revela vácuo ético da sociedade brasileira. Estes jovens estão se constituindo como adultos sem nenhum princípio ético, seus desejos são imperativos de seus comportamentos. Que sociedade é esta? Os pais de todos estes fraudadores ignoravam que seus filhos tinham se declarado negros? Ou incentivaram seus descendentes a se tornarem médicos, advogados, historiadores, professores através de um ato criminoso inaugural? Que sociedades estas famílias, tão protegidas pelos sensores de plantão na virada cultural reacionária do país, idealizam para os seus filhos? Uma sociedade de predadores? Esta é a sociedade do mérito apregoada pelos neoliberais?
É pela presença do racismo e do vácuo ético que a política de cotas deve ser reafirmada e ampliada. O comportamento destes jovens, provavelmente com o consentimento de seus pais, reforça a necessidade de ações concretas contra o racismo e o vácuo ético que vitima este pobre país chamado Brasil.