* Fotógrafo, instrutor de danças do Projeto Aquecimento Cênico
Um fato se repete todos os anos durante a Semana Farroupilha. Com redes sociais incorporadas em nossas vidas, ficou ainda mais público e evidente, porque o que era boca a boca, agora virou texto para curtir e compartilhar. Dezenas de publicações criticando de forma irônica ou negativa os "gaúchos de Semana Farroupilha", expressão que identifica os que esperam um ano inteiro para poder usar uma pilcha gaúcha no trabalho ou na escola, por exemplo. Curioso ver pessoas tão tradicionalistas ignorarem completamente as três palavrinhas que estão em nosso pavilhão: Liberdade, Igualdade e Humanidade. Segundo os donos da verdade, a liberdade para usar uma bombacha é restrita aos humanos que são iguais a eles. No mínimo curioso.
A Semana Farroupilha traz ao Rio Grande do Sul uma oportunidade para ver pessoas sorrindo. Escolas fazem movimentos novos, crianças que até então só se divertiam na frente de computadores e videogames vestem orgulhosos trajes típicos, empresas mudam sua rotina para permitir que os funcionários possam curtir a semana pilchados. Acho maravilhoso quando um colega vem me perguntar como se dá um nó de lenço! Este sentimento aproxima as pessoas, abre espaço para debates e os olhos para novos horizontes. Bem-vindos todos os gaúchos de Semana Farroupilha, de apartamento, de Expointer ou de Nova York! Quando penso em Semana Farroupilha, penso no pai que se esforça para pilchar seu filho pela primeira vez e levá-lo ao acampamento para poder ver um cavalo de perto. O sorriso da criança ao sentir-se gaúcho me enche de orgulho por viver em um lugar que oferece isso entre tantas outras ofertas globais que assediam nossos pequenos.
Penso que o campeiro serve como referência, ou mesmo reverência. O urbano que nesta época se pilcha a capricho, não é campeiro em sua essência, mas está campeiro. Utiliza o referencial do campo para viver uma experiência diferente de sua realidade urbana para ser feliz. O homem que vive no campo, que produz e cria, não fica menos campeiro porque alguém da cidade o usa como referência.