Como fazer para que o Rio Grande do Sul possa retomar o crescimento? Recém divulgado, o Índice de Desenvolvimento Estadual – Rio Grande do Sul (iRS) aponta uma preocupante estagnação na qualidade de vida do Estado por dois anos consecutivos. Na seção "Duas Visões", o professor de Economia da UFRGS Ivan Salomão (leia abaixo) e a a economista-chefe da Fecomércio/RS,Patrícia Palermo, apontam caminhos diferentes para o poder público enfrentar entraves em áreas como educação e segurança pública, como forma de a economia gaúcha deixar de perder posição para outras unidades da federação e voltar a se expandir de forma sustentável
A recente divulgação do Índice de Desenvolvimento Estadual (iRS) reflete uma realidade sombria que, se havia pouco parecia acometer apenas os rincões do Brasil profundo, tem agora ultrajado a sociedade gaúcha em diversos aspectos. O panorama é desalentador para onde quer que se olhe.
Conquanto a crise econômica seja nacional, setores importantes da economia rio-grandense têm sido diretamente impactados pela recessão atual. A começar pelo processo de desindustrialização, de cujas consequências deletérias os sucessivos governos não têm conseguido se desvencilhar. A outrora competitiva indústria metalmecânica da Serra demonstra que, sem uma política industrial estruturante, mas ao mesmo tempo comedida – o que, por óbvio, exclui a adotada nos últimos anos –, nem mesmo empresas que operam no estado da arte conseguem prosperar. Já a agropecuária, ao que tudo indica, tem sido menos afetada. Setor tradicional da economia gaúcha, os produtores rurais vêm sobrevivendo ao fim do superciclo das commodities, ainda que cadeias relevantes para regiões menos desenvolvidas do Estado, como a leiteira, tenham enfrentado dificuldades crescentes que se refletem na recente perda da vice-liderança nacional para o Paraná.
Um segundo elemento que retrata a crise histórica do Estado diz respeito à educação. Área de que os gaúchos podiam se orgulhar por ostentarem níveis diferenciados se comparados ao resto do país, os exames nacionais demonstram que a Finlândia meridional ficou no passado. O problema é complexo e para o qual não há coelho na cartola. Salário e aperfeiçoamento dos professores são essenciais? Sem dúvida, mas insuficientes. Além da necessidade de um projeto pedagógico moderno, de infraestrutura adequada e de uma gestão criativa e eficiente, variáveis exógenas ao ambiente acadêmico, como a estrutura familiar e até a (falta de) segurança nos arredores das escolas, contribuem para explicar o desastre da nossa educação básica.
Por fim, a face mais dramática da crise que nos assola. A guerra urbana que se instalou em todo o Estado simboliza a falência das instituições públicas brasileiras. Tragédia multicausal e de difícil solução no curto prazo, o combate à violência envolve a atuação conjugada de diversos atores sociais. A premência da situação exige, naturalmente, o uso do poder dissuasório e coercitivo da polícia. A simples presença de soldados espalhados pela Capital já devolveu à população o mínimo que uma civilização digna do nome requer: uma tênue sensação de segurança. Mas polícia per se, não basta. É preciso desbaratar financeiramente as quadrilhas por meio da inteligência e punir os bandidos, com os rigores e garantias da lei, pelos operadores da Justiça. Mas não ousemos exigir tanto de nossos homens públicos. O que se pode esperar de um governo amador, de um parlamento dominado pelo atraso e de um Judiciário tão conectado à realidade do país quanto Michel Temer o é à Terra do século 21?
A única solução perene para o problema da violência é a garantia de oportunidades decentes aos milhares de jovens que perdemos para o crime. Futebol e tráfico não podem ser as únicas formas de fugir da miséria neste país. Enquanto o filho do porteiro não tiver as mesmas oportunidades que o do presidente da República, o encarceramento absoluto ainda não será o bastante.