Há mais de 50 anos, a Igreja promove, neste período da Quaresma, no Brasil, uma reflexão temática sobre uma realidade emergente, para a qual requer a nossa atenção e amor. A Campanha da Fraternidade, que começa nesta Quarta-feira de Cinzas e se estende o ano inteiro, é uma forma concreta de provocar a conversão pessoal e mudança das estruturas sociais, de verdadeiras políticas públicas, para que a Quaresma não permaneça somente na oração (fé), no jejum (esperança) e na esmola (caridade) – exercícios bíblicos próprios, sugeridos nesse tempo de penitência e maior caridade.
Muitos já não conseguem viver esses 40 dias antes da Páscoa como um tempo diferente e especial. Vivem igual, como sempre viveram, não movendo um dedo sequer a favor da justiça e solidariedade com o irmão necessitado. A fome, a miséria, a injustiça, a violência já não afetam as pessoas indiferentes.
A maior chaga que existe é a indiferença com o mundo a nossa volta, sem se importar com a casa onde habitamos e com tudo o que nela vive ou morre.
Neste ano, a Igreja do Brasil se preocupa com os seis biomas brasileiros – nossas reservas ambientais, que estão em risco: a Amazônia, a caatinga, o cerrado, a mata atlântica, o pantanal e o pampa. O lema "Cultivar e guardar a criação"(Gn 2,15) é um imperativo do Criador e Pai, quando modelou o ser humano. Não é questão de apenas um pequeno olhar para a ecologia ambiental e para o ecossistema global. No centro da criação está o homem!
Importa se voltar para o ser humano, destruído, aniquilado, desfigurado em todo o planeta, cada vez mais nos descuidamos da casa comum, toda bagunçada. Preocupamo-nos, muitas vezes, mais com os ovos de tartaruga do que com o feto no útero da mãe. Zelamos mais pelas espécies em extinção do que pela dignidade de cada ser humano. É preciso ver o mundo com olhos de Deus, enxergar o outro como meu irmão, a natureza e o planeta como o meu lar. Papa Francisco deixou uma intrigante pergunta, na Encíclica Laudato Si: que mundo vamos deixar, no futuro, para as nossas crianças? Eu ainda acrescentaria outra: teremos, no amanhã, ainda crianças?