O governo Temer sai fortalecido nas escolhas dos parlamentares que comandarão as principais casas legislativas do país pelos próximos dois anos. Em ambas as eleições, deu o que o Planalto queria: o cearense Eunício Oliveira (PMDB) para liderar o Senado e o fluminense Rodrigo Maia (DEM) reeleito por mais um mandato na Câmara dos Deputados. Na teoria, a presença de aliados nos cargos legislativos mais importantes e na própria linha de sucessão presidencial assegura o encaminhamento e, provavelmente, a aprovação das reformas estruturais que o governo vem implementando. Pode, portanto, ser adequado para o país.
Porém, considerando-se que os dois parlamentares figuram também entre os suspeitos citados por delatores da Operação Lava-Jato, aumenta o risco de retrocesso no combate à corrupção, que também é um clamor nacional. Mesmo ressalvando-se o fato de que citação não é culpa, e que todos os políticos mencionados nos depoimentos têm direito a uma investigação justa, com ampla oportunidade de defesa, a realidade é que o país está confrontado com o desafio de moralizar a política e a administração pública sem recorrer a autoritarismos e macarthismos, ao mesmo tempo em que precisa superar a crise econômica.
Como reconheceu o novo presidente do Senado no discurso que precedeu a votação, as lideranças do país estão diante da "difícil missão de acalmar as águas desse mar revolto que é a política brasileira neste momento". Diante desse cenário de incertezas, o desejável é que os dois políticos eleitos para comandar o Legislativo enfrentem com transparência as acusações de que são alvo e tenham discernimento para implementar ações que ajudem o Brasil a reencontrar o caminho do desenvolvimento sem perder o rumo da restauração ética.