Graças à obstrução dos pequenos partidos, foi abortada na Câmara no início da semana uma manobra destinada a anistiar parlamentares e ex-parlamentares que tiveram suas campanhas eleitorais financiadas por meio do caixa 2. Sob o pretexto de criminalizar a prática e dar andamento a uma das dez medidas contra a corrupção propostas pelo Ministério Público Federal, lideranças dos principais partidos do Congresso tentaram dissociar os recursos de caixa 2 das doações decorrentes de propinas.
Em muitos casos, tal separação é impossível, mesmo que os doadores ouvidos pela Lava-Jato apresentem suas versões. O dinheiro não tem rótulo. Além disso, ambos os tipos de doações são irregulares. Por mais que os políticos aleguem que o caixa 2 é uma prática antiga ou tentem reduzi-la ao conceito de "recurso não contabilizado", como alegou um tesoureiro de partido investigado pela Justiça, os tribunais já não aceitam tal flexibilização. Vale lembrar, por exemplo, o que disse no julgamento do mensalão, em 2012, a atual presidente do STF, ministra Cármen Lúcia: "Caixa dois é crime; caixa dois é uma agressão à sociedade brasileira".
O curioso é que, depois da gritaria promovida pelos partidos menores, ninguém assumiu a autoria da manobra de autoanistia. Sabe-se que a costura do texto foi resultado de uma articulação suprapartidária, que vinha sendo feita havia algumas semanas, com o aval do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e incluindo tanto partidos governistas, como PMDB, PSDB, DEM, PR e PP, quanto da oposição, como PT.
Não por coincidência, essas siglas têm vários integrantes na mira da Operação Lava-Jato.