A presidente afastada Dilma Rousseff ofereceu à nação, ontem, uma carta-testamento de sua administração, interrompida pela ruína econômica do país, pelo maior escândalo de corrupção da história da nação e pela degradação das práticas políticas – mazelas debitadas aos governos petistas pela maioria da população. "Não é legítimo afastar o chefe de Estado e de governo pelo 'conjunto da obra'" – argumenta a signatária do documento, sem, no entanto, admitir que o processo de afastamento vem observando rigorosamente a Constituição com o respaldo das instituições democráticas do país, mais especificamente o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
Não há por que afirmar, portanto, que a consumação do impeachment será um golpe de Estado. Mas a presidente, mantendo a condição de vítima que assumiu desde o início do processo de afastamento, insiste que não cometeu o crime de responsabilidade a ela atribuído. É seu direito se defender desta forma, como têm feito seus advogados em todas as etapas do julgamento político a que está sendo submetida. Jamais lhe foi negado o direito de se defender, como é de praxe nos procedimentos democráticos.
Dilma Rousseff afirma que só quem pode afastar um presidente pelo "conjunto da obra" é o povo e, para possibilitar esta legitimidade, se compromete com a convocação de um plebiscito caso volte ao poder. Esquece-se a presidente afastada de que o povo já se manifestou diversas vezes sobre os desmandos de seu governo, sobre o aparelhamento do Estado e sobre a corrupção e o saque de dinheiro público durante sua administração. Multidões foram às ruas para protestar contra tudo isso. E também para apoiar inequivocamente tanto as investigações e as punições da Operação Lava-Jato quanto o julgamento político do governo interrompido, em fase de conclusão no Senado.
No seu texto de quatro páginas, a presidente não reconhece erros nem pede desculpas. Apenas se diz injustiçada. O povo brasileiro é que se sente injustiçado, traído por seus representantes políticos e condenado ao sacrifício de uma crise sem precedentes, que extingue empregos e esperanças.