O governo afastado e o governo interino deflagraram novas estratégias políticas a partir da delação e da divulgação de gravações de conversas do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado com lideranças do PMDB. Os partidários de Michel Temer decidiram apressar os procedimentos para o julgamento final do impeachment, temendo o desgaste político do presidente em exercício e dos partidos que lhe dão sustentação. Já os defensores de Dilma Rousseff veem nos indícios de degradação do sistema político e na evidente resistência dos partidos à Lava-Jato uma oportunidade de conquistar a opinião pública para a tese do retorno da presidente afastada, mediante reversão de votos no Senado.
Nenhuma das duas estratégias serve ao país. Se o sistema político está degradado – e parece mesmo estar –, a solução é corrigi-lo pela via legal, pela observância dos instrumentos democráticos e pela Constituição. Sob essas mesmas regras, deve se manter o rito do julgamento da presidente da República afastada por crime de responsabilidade. Essa guerra política irracional já fez mal demais ao país.
O Brasil tem instituições fortes e respeitadas. Exemplo disso é o Supremo Tribunal Federal, cujos integrantes, em sua maioria, vêm demonstrando total independência em relação aos políticos, incluindo-se aí os governantes que os indicaram para a corte. Então, temos que acreditar que o Judiciário e o Ministério Público continuarão zelando pelo processo de moralização da política, como vêm fazendo desde que a atual crise foi deflagrada. Os brasileiros que lutam por um país mais íntegro e decente não se deixarão iludir por teses partidárias facciosas nem aceitarão qualquer tipo de ilegalidade neste momento crucial para os destinos da nação.