O discurso do combate à corrupção acompanha a história brasileira em seus momentos ditatoriais e nos períodos democráticos. Mas esse combate é falso. Sempre serviu como bode expiatório de razões menos nobres, que se confundem com a própria corrupção, que os arautos dizem combater.
As forças que querem o impeachment de Dilma Rousseff estão atentas aos movimentos da Câmara de Deputados e da comissão que examina as acusações contra a presidente, mas não dão importância ao fato de a Câmara ser presidida por Eduardo Cunha, réu da Lava-Jato por decisão do STF. Da comissão composta de 65 deputados, 40 são citados nas investigações da Lava-Jato.
Outro agente importante no cenário é o mercado, sente-se agredido, às vezes exageradamente excitado, faz caras e bocas. Mas fingem esquecer seus defensores de plantão que todo o dinheiro da corrupção vem do mercado, o grande corruptor. E fazem parte dele os bancos e financeiras, que foram protagonistas de escândalos nas últimas décadas e, atualmente, as empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato.
Mas os deputados, o mercado e parcelas importantes da população resolveram que a solução para a corrupção e para crise política é o impeachment da presidente da República, contra a qual não há uma única acusação de corrupção. Dizem os defensores do impedimento que não se trata de um golpe porque está previsto na Constituição. Ora, este é um argumento pífio, pois a Constituição fala em impedimento quando provado crime de responsabilidade e o que está ocorrendo é transformação de uma prática corrente dos poderes Executivos estaduais e federal em crime. As pedaladas fiscais não foram crime no governo FHC, nem o são nos governos dos Estados. Só é crime quando cometido pelo governo de Dilma Rousseff. Seria interessante investigar como alguns Estados da federação, incluindo o Rio Grande do Sul, em crise econômica hoje, tratam suas dívidas com instituições públicas.
Os escândalos de corrupção não foram inventados, foram trazidos à tona por uma Polícia Federal e por um Ministério Público independentes. Mas enganam-se aqueles que pensam que não há uma forte relação entre o empenho em aprovar o impedimento e a expectativa que um novo governo, um governo do PMDB, teria os meios para conter as investigações, que atingem os políticos do próprio PMDB e dos principais partidos da oposição. Reduzir a corrupção ao PT, seria um formidável salvo-conduto para ela continuar a não importar.