Cobertura: acadêmicos da PUCRS
Texto: Bianca Gross
Fotos: Marilia Oliveira
Duas figuras do jornalismo investigativo: Carlos Etchichury e Adriana Irion. Na noite de quarta-feira (17), os dois, integrantes do Grupo de Investigação (GDI) do Grupo RBS, estiveram no auditório da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS. O evento, que contou com a mediação do professor Juan Domingues, teve como pauta os bastidores do GDI, grandes reportagens produzidas pela equipe e o dia a dia da redação.
Há 19 anos no jornalismo, Etchichury é editor-chefe do Diário Gaúcho (DG) e coordenador do GDI. Inicialmente, o jornalista explicou sobre quatro níveis de reportagens, relacionando a integração dos diferentes veículos do Grupo na disseminação de informações e produções jornalísticas, contando como funcionam na prática produção, repercussão, publicação e apuração das reportagens. Além disso, apresentou os integrantes da equipe e falou sobre a organização do trabalho.
Com a missão de revelar o que o poder tenta ocultar, a formação do grupo conta com jornalistas do jornal Zero Hora, da rádio Gaúcha e da RBS TV. São eles: Adriana Irion, Carlos Rollsing, Cid Martins, Fábio Almeida, Giovani Grizotti, Humberto Trezzi, Jeniffer Gularte, Jonas Campos, José Luís Costa, além do editor, Carlos Etchichury.
–Espero que esse grupo tenha vida longa e se torne um patrimônio para o jornalismo – afirmou Carlos Etchichury.
O trabalho do GDI foi exemplificado com cases de investigações produzidas pela equipe. Perigo no Prato, primeiro conteúdo do grupo, que fala sobre o abuso no uso de agrotóxicos foi classificada como a grande reportagem do GDI. Com um forte impacto, a matéria resultou em um inquérito instalado pelo Ministério Público (MP) e na suspensão de 18 produtores da Ceasa. Outras matérias também foram apresentadas, como O homem da Faculdade de Papel, feita por José Luis Costa. A apuração, que durou três meses, revela a fraude do advogado porto-alegrense Faustino da Rosa Junior, que criou o grupo Facinepe e usou documentação de faculdade com credencial vencida para vender cursos.
Sobre as reportagens publicadas até então, Etchichury afirma: "produzimos mais do que imaginávamos". A fala prosseguiu com Adriana, jornalista de Zero Hora há 25 anos. A repórter, que passou pela editoria de política e de polícia coloca em prática os conhecimentos adquiridos ao realizar suas atividades na equipe investigativa. Ela falou sobre o processo de apuração e exemplificou seu trabalho ao apresentar a reportagem Sem fiscalização do DEP limpeza terceirizada é superfaturada na Capital.
A notícia revelou o superfaturamento de 30% na limpeza de bueiros de Porto Alegre. Ela conta que após muitas idas às ruas da cidade para a contagem de bueiros e seis meses de apuração, até hoje a pauta está tendo desdobramentos. Adriana também salientou a importância das fontes no trabalho jornalístico.
– Não existe repórter sem fonte. Não faríamos nada sem essas pessoas –garante.
O evento também contou com dúvidas e curiosidades da plateia. O primeiro a perguntar foi o professor Celso Schröder que questionou como as matérias são inseridas no cenário geral, pois elas não falam sobre a pauta do dia, mas têm suas próprias agendas. Etchichury explicou que o objetivo do grupo é justamente fazer pautas fora das do dia a dia e destacou o grande objetivo da pauta Perigo no Prato: apresentar os produtos que estão sendo produzidos e não consumidos. Schröder também mencionou a reportagem Relatório de sindicância do Badesul confirma pressão de dirigentes para empréstimos sem garantias reais e perguntou como o grupo lida com o interesse das fontes e o pedido de contraponto nas reportagens, muitas vezes pedido apenas no final da produção da pauta e muito perto do deadline, o que deixaria a reportagem ainda tendenciosa.
O coordenador do GDI respondeu dizendo que a questão do timing em que acontece o pedido de contraponto pode ser repensado. Acerca do perigo de informações virem de fontes atendendo a agendas específicas, Etchichury afirmou:
– Todas as matérias têm interesses e pressões.
Estudantes também perguntaram sobre a importância do jornalismo de dados no GDI e os perigos de atuar na área investigativa. Etchichury disse que, além de fundamental para o GDI, o jornalismo de dados é positivo como um todo. Quanto à segunda pergunta, Adriana declarou que nunca sofreu nada sério, mas contou o caso do colega, Carlos Rollsing, ameaçado a ponto de ter que deixar a própria casa por alguns dias. Outra pergunta da plateia foi acerca da liberdade do grupo em investigar e publicar questões que envolvem anunciantes do Grupo RBS.
O coordenador exemplificou a situação com a reportagem sobre a Facinepe, anunciante de ZH e Rádio Gaúcha, e disse que a equipe não teve problemas quanto a isso, que apenas alertou o setor comercial sobre a presença do anunciante em uma matéria investigativa, mas não entrou em detalhes. Na ocasião, os anúncios da Faculdade foram publicados na mesma edição que a reportagem que denunciava o escândalo envolvendo seus proprietários. Por fim, o mediador perguntou se o filme Spotlight – Segredos Relevados influenciou a criação da equipe. Sem titubear, Etchichury confirmou o fato e declarou:
–Spotlight é um baita exemplo e referência.
Confira o roteiro e como foi a cobertura de alunos durante os encontros #ZHnaFaculdade 2017:
Dia 9 - manhã e noite
UFRGS (Porto Alegre) - 10h30min - Ticiano Osório e Carlos Rollsing "Caderno DOC e a investigação jornalística em ZH"
ESPM (Porto Alegre) – Paulo Germano – "Jornalismo fora da curva e senso de humor na política"
UCPel / UFPel (Pelotas) – Raquel Saliba – "Jornalismo multimídia: as mudanças na produção de imagens em uma redação digital"
UCPel / UFPel (Pelotas) – Raquel Saliba - "A ousadia de experimentar formatos diferentes é o mais importante", diz editora ZH
Unifra (Santa Maria) – Rodrigo Müzell – "Cante a sua aldeia – como o conteúdo local pode ajudar a salvar o jornalismo"
UniRitter (Fapa-POA) – Debora Pradella – "Apps Colorado e Gremista: cinco tendências digitais na palma da mão"
Dia 10 - tarde e noite
UFSM (Santa Maria) – Rodrigo Müzell – "Cante a sua aldeia – como o conteúdo local pode ajudar a salvar o jornalismo"
Unipampa (São Borja) – Léo Gerchmann – "A América Latina na pauta jornalística"
Dia 11 - noite
Unicruz (Cruz Alta) – Jefferson Botega – "Todo jornalista é um profissional de imagem"
IPA (Porto Alegre) – Diego Araujo – "A cobertura esportiva em ZH"
Unifin (Porto Alegre) – Nilson Vargas – "Os desafios dos novos jornalistas no mercado em transformação"
Dia 15 - noite
Feevale (Novo Hamburgo) – Rodrigo Lopes – "Jornalismo transmídia em zonas de guerra e de catástrofe"
Dia 16 - noite
Univates (Lajeado) – Juliana Bublitz – "O jornalismo de dados na reportagem diária"
Dia 17 - tarde e noite
Unijuí (Ijuí) – Humberto Trezzi – "O jornalismo investigativo"
UFSM (Frederico Westphalen) – Ticiano Osório – "O caderno DOC e a edição de reportagens especiais"
Unisinos (São Leopoldo) – Nilson Vargas – "Os desafios dos novos jornalistas no mercado em transformação"
Unisinos (Porto Alegre) – Tulio Milman – "Multimídia e os novos parâmetros da comunicação"
PUCRS (Porto Alegre) – Carlos Etchichury e Adriana Irion – "A investigação jornalística: os bastidores do Grupo de Investigação (GDI) do Grupo RBS"
UniRitter (Porto Alegre) – Rosane de Oliveira – "Informação exclusiva e opinião no jornalismo político"
Dia 22 - noite
Ulbra (Canoas) – Nathalie Córdova – "Como ZH se tornou o veículo campeão em engajamento nas redes sociais brasileiras"
UCS (Caxias do Sul) – Diogo Olivier – "O desafio do jornalista multimídia"
Urcamp (Bagé) – Bruno Alencastro – "Fotojornalismo em tempos de convergência"
Dia 24 - noite
Fadergs (Porto Alegre) – Marta Sfredo – "O dia a dia do jornalismo econômico em um país em transformação"
Dia 31 - noite
FSG (Caxias do Sul) – Marta Gleich – "A investigação jornalística: os bastidores do Grupo de Investigação (GDI) do Grupo RBS"
Dia 8 de junho - noite
Unisc (Santa Cruz do Sul) – Dione Kuhn - "A cobertura política do Brasil em ZH"