Na quarta-feira (17), pouco depois das 19h30min, soou na Redação a singular vinheta do plantão do Jornal Nacional. Raramente usada, é o alarme que mobiliza o telespectador – e injeta uma overdose de adrenalina nos jornalistas. Começava ali mais um terremoto político de grande magnitude no Brasil, cujas réplicas ainda não cessaram.
O resumo da notícia, divulgada com exclusividade pelo colunista Lauro Jardim, de O Globo: Joesley Batista, ex-presidente da JBS, entregou à Procuradoria-Geral da República, em delação premiada, áudios com graves denúncias contra o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves, além de fazer revelações igualmente graves contra os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, entre outros. A semana terminaria com o presidente da República investigado por corrupção passiva, obstrução da Lava-Jato e organização criminosa. Que tempos.
As notícias se precipitaram pela noite de quarta, e a longa quinta-feira (18) foi de suspense: Temer renunciaria ou não? Vivemos dias em que a história do país se desenrola como num filme, diante dos olhos incrédulos da população.
Em momentos como este, ganha ainda mais relevância o jornalismo profissional, que revela, checa, verifica, esclarece, interpreta, aprofunda e contextualiza os fatos. Do que exatamente o presidente e o senador, principais alvos da delação de Joesley, estão sendo acusados? Qual a gravidade dos fatos? O que pode acontecer a partir de agora? Renúncia? Impeachment? Cassação? Se isso ocorrer, teremos eleições diretas ou indiretas? Quem assume se o presidente for afastado ou renunciar? O governo tem condições de governar diante da instabilidade? Como a JBS tinha tanto dinheiro para corromper e crescer? O que será feito das reformas previdenciária e trabalhista?
Responder a todas essas perguntas, clarear o cenário, apresentar didaticamente os fatos é o cerne da atividade jornalística. Imaginem esses momentos sem imprensa profissional para traduzir, explicar e divulgar o que muitos não querem ver publicado. Ou sem jornalistas especializados – comentaristas, âncoras e colunistas como Rosane de Oliveira, Tulio Milman, Carolina Bahia, David Coimbra, Marta Sfredo, Kelly Matos, Paulo Germano, Daniel Scola, Gisele Loeblein, Cláudio Brito, Humberto Trezzi, somente para citar os da RBS – que nos ajudam a formar nossas próprias opiniões, concordando ou discordando do que dizem.
Por uma coincidência, nos Estados Unidos, os jornais, de forma especial The New York Times e The Washington Post, também têm vivido dias de protagonismo, ao denunciar problemas do governo. O presidente americano é acusado de pressionar o FBI e obstruir a Justiça. Donald Trump queixa-se de ser tratado injustamente pela imprensa.
Em sociedades democráticas, a imprensa livre exerce seu papel em magnitude máxima nos momentos de grandes crises. Somente redações independentes e com profissionais qualificados conseguem servir adequadamente a seus públicos diante de situações conturbadas e complexas. É o que tentamos fazer de quarta-feira para cá. Criamos uma força-tarefa, reforçamos a Sucursal de Brasília, mobilizamos os principais editores, repórteres e colunistas de Zero Hora e Rádio Gaúcha e colocamos os melhores colunistas e comunicadores no assunto.
Seguimos firmes na trincheira do jornalismo para traduzir a realidade, analisar os fatos e antecipar o que poderá ocorrer, de forma plural e apartidária. Nesta edição, além dos detalhes da delação da JBS, confira reportagens especiais sobre a crise: juristas analisam trechos polêmicos da conversa entre Temer e Joesley Batista; quem é Rocha Loures, o emissário do presidente; especialistas apontam caminhos para tirar o país do impasse. E não perca uma nova rodada de análises dos nossos colunistas, reforçados na Superedição de fim de semana por nomes como Marcos Rolim e Flávio Tavares.